Saudades


O tempo passa voando, tal termo já é clichê.
Sinto saudades dos momentos que se foram e que não fui capaz de reconhecer a ausência da eternidade nos detalhes.
Saudades daquele cheiro de pão recém tirado do forno.
Saudades das mãos calejadas que ofereciam doces como forma do carinho que as palavras eram incapazes de expressar.
Saudades do tic-tac daquele imenso relógio (majestoso) daquela sala.
Saudades da fruta vermelha com a leveza cítrica que só poderia ser encontrada naquele quintal.
Saudades do pé de Jabuticaba carregado com as maiores e mais doces frutinhas do mundo.
Saudades das prosas infantis recheadas de fantasia.
Saudades daqueles cabelos cuidadosamente tingidos com o tonalizante violeta.
Saudades do melado das roscas.
Saudades daquele olhar, dos conselhos, das histórias, do parque, da banquinha de verduras no rústico mercado.
Saudades da vida que não volta, da infância colorida, da verdade vital que o vento leva.
O imortal é fruto da mortalidade.
A saudade é a moldura que a vida se encarrega de compor para que o tempo não se resvale na imensidão eterno.
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Texto dedicado a meu avós:
Emilia Barbosa Saad e Maria Marciano Pedro
In memorian de Walter Saad e Fued Pedro