Música de mala

Nada como um final de semana na casa da avó no interior do estado. Enquanto a travessia não se findava misturando o olhar entre SOJA-MILHO-MILHO-SOJA, (enfadonha paisagem do devastado cerrado) a música acalmou meus sentidos e levou-me além do asfalto bucólico.




Aqui está minha listinha de músicas indispensáveis para colocar na bagagem:

Pelos ares - Adriana Calcanhoto

She loves You - The Beatles

É proibido sofrer - Leoni

A francesa - Marina Lima

Clara como a luz do sol- Derrepente California- Nada do que foi será - Lulu Santos (MTV Acústico)

Flor de liz - Djavan

Se - Djavan

This boy - James Morrison

California - Phanton planet

Noite fria - Rosa de Saron

Good King - The wreckers

C.S Lewis song - Brooke Fraser

Pescador de ilusões - O Rappa




Dona Maria, eu e a aula de trânsito...


O jornalismo norteia meus dias... Passei a noite escrevendo uma reportagem científica sobre “depressão”.

Meu ciclo de sono durara duas míseras horas e por incrível que pareça durante o dia não senti os malefícios da vida jornalística, porém agora (logo agora) meus olhos estão pesados, minha cabeça dói e o sono clama por meu nome avidamente: Estou na auta TEÓRICA de trânsito!

Minha carteira de motorista tipo B já virou novela mexicana com direito a Carlos Daniel, Maria Del Bairro (que inclusive sou eu) e uma dublagem inóspita. Atrasaram-me em um dia e quando procurei a auto-escola para repor a bendita aula, esta (e o magnífico sistema de leis de trânsito brasileiro) multiplicou-se em TRÊS prazerosas aulas.

Quem já fez aula teórica de trânsito sabe o que eu digo! Cada aula possui interessantíssimas QUATRO HORAS, agora multiplique tal suplício por três! Ok, eu não sou boa em matemática, mas este calculo é tão desesperador que a massa encefálica que ojeriza tal ciência grita: DOZE! Você passará DOZE HORAS! ,metade de um dia sentada ouvindo as amarguras do código de trânsito.

Nunca sonhei tanto com a medida macia do meu colchão. Meu travesseiro confortável. Meu cobertor quentinho... E eu aqui na maciça cadeira ouvindo sobre o recolhimento da carteira de motorista, ou algo sobre a cor dos faróis de um carro.

Sinceramente, acho que de repente (não mais que de repente) sinto os efeitos cientificamente provados da reportagem que escrevi esta madrugada!

O que seria de mim sem as noites mal dormidas jornalisticamente falando?! Acredito que já cheguei a um processo de insanidade, o que me faz lembrar de Dona Maria, a Louca, a imperatriz que corria nua pelos corredores do palácio carioca.

Como D. Maria era imperatriz, podia atentar contra o pudor onde, quando e como ela quisesse...

Eu sou Maria, mas não tão louca como a rainha! Ou sou? Não saio correndo pelada pelos corredores, mas depois de desnudar meus mais profundos sentimentos de cólera acoplados à longa escala de sono, devam chamar a postura: Que indecoro! Que atentado violento ao pudor!

Mas combinemos, D. Maria tinha Carlota Joaquina para tirar-lhe a razão (além de seus demônios de estimação) e eu tenho a aula teórica de trânsito (que obviamente supera os demônios de estimação da rainha).

PS:Escrevi há alguns dias este texto no auge do tédio em uma aula teórica de trânsito, porém o processo traumático foi tamanho que só hoje consegui digitar aqui estes pensamentozinhos...
Rssssss

Simplesmente James Morrison

James Morrison (Rugby, Inglaterra, 13 de Agosto de 1984- ) é um cantor britânico e guitarrista que se tornou famoso ao lançar o seu álbum de estreia Undiscovered, em 2006 que o atirou para as luzes da ribalta com apenas 22 anos. O sucesso que alcançou no seu país, o Reino Unido, garantiu-lhe o número 1 do top de vendas de discos do país, logo na primeira semana em que o trabalho saiu. Os elogios da crítica à sua voz afinada renderam-lhe comparações com nomes como Mika. Otis Redding, Al Green, Cat Stevens, The Kinks e Van Morrison fazem parte da sua herança musical. Apesar disso, a infância de James Morrison, passada na pequena cidade inglesa de Rugby, esteve longe de ser feliz. Autodidata, James aprendeu a tocar guitarra aos 5 anos, mas só aos 13, quando o tio Joe lhe mostrou alguns temas de Alan Deane, um artista local é que começou a levar as coisas a sério. Os velhos discos do seu tio inspiraram-no e começou a compor as suas proprias músicas. O cantor desempenhou todo o tipo de funções para ganhar algum dinheiro. Porém, foi graças a um representante da editora Polydor,que viu que o seu talento era fazer números musicais. Após fazer uma apresentação ao vivo para a produtora, James Morrison teve a oportunidade de gravar o seu álbum de estreia. A produção de Undiscovered ficou a cargo de Martin Tenerife, tendo o disco saido em Agosto de 2006. No Outono do mesmo ano, o músico acompanhou Corinne Bailey Rae numa série de concertos, abrindo os espetáculos. Com uma mistura de Pop Rock, James Morrison, de 22 anos, facturou o Brit Award de melhor cantor em Fevereiro de 2007. As suas músicas simples, mas carregadas de emoção e sua voz afinada, são o motivo do grande sucesso pelo mundo.

O vídeo acima é da música "Broken Strings" que James Morrison gravou em parceria com a cantora Nelly Furtado... Tá certo que eu não gostei da voz dela (que até então não conhecia), mas o James Morrison superou com sua interpretação e tudo mais!!!!

Música linda, cantor perfeito, letra realista...

Bom proveito a todos!

No divã com a Pat


A jornalista Patrícia Papini é mãe, esposa, filha, irmã, professora, jornalista e recentemente acumulara mais uma função, blogueira.
Ela comanda o "Papo da Papini" (http://papodapapini.blogspot.com/), nada mais nada menos que seu cantinho para fazer o que chama de "necessidade de expressar meus sentimentos, bons ou ruins, mas meus".
O Penduricalho se senta no Divã com a Patrícia e compartilha diversas idéias com esta multi mulher.


Patrícia como começou a idéia de se criar um blog?

Surgiu da necessidade de expressar meus sentimentos, bons ou ruins, mas meus. Como jornalista, minha rotina está sempre muito relacionada à notícia de fatos, acontecimentos envolvendo outras pessoas, outros universos. E, considerando que trabalho em tempo integral, e também à noite, o blog me surgiu como a possibilidade de dividir minhas impressões sobre o mundo, a vida, sobre minha vida pricipalmente, e tudo o mais que eventualmente possa se tornar objeto do meu interesse.

Quais os recursos utilizados para manter um público fiel ao seu blog?

Procuro postar com uma certa peridiocidade que, no meu caso, restringe-se a uma por semana diante do grande número de atribuições que tenho. Também acho que posts devem conter, de fato, um assunto interessante, que prenda o leitor. No meu caso, a maioria é de crônicas. Procuro escrevê-las com muito cuidado, muito carinho, como quem faz uma obra de arte mesmo. Criar um blog e postar assuntos sem cuidado, sem se perguntar se isso realmente é interessante pode afugentar seus leitores e isso depende do que você quer: postar para desabafar ou postar para manter um público fiel? Ou as duas coisas? Cada um precisa saber porque, exatamente, criou um blog. No meu caso, tenho, sim, a intenção de manter um público cativo. Por isso posso não postar muito, mas meus posts são de boa qualidade.


Qual a diferença das matérias vinculadas no seu blog de um jornal tradicional?

A diferença é que meu assunto não é notícia. Ou, pelo menos, não se pretende noticioso. Se houver uma notícia que me impulsione a escrever, eu o farei, mas não tenho esse compromisso comigo mesma. Na descrição do meu blog deixo claro que estou falando de minha vida, das minhas impressões sobre o mundo e as pessoas que me cercam, sobre minha história, meus antepassados, e, eventualmente, é claro, isso pode significar uma notícia factual. Mas isso não ocorreu até o momento. Não porque não existam notícias que não tenham me incomodado, mas porque, como lido com notícias todos os dias, e o dia inteiro, no blog procuro diversificar meu estilo de texto e também meu foco.


Você acredita que os blogs podem democratizar a informação?

Com certeza. Embora eu infelizmente tenha conhecimento de pessoas que perderam cargos em razão do que postavam em seus blogs. Contudo, sem dúvida o blog é um ferramente de comunicação individual e, por isso apenas, já democratiza a informação. É claro que tem a questão dos mass media. Num blog você não consegue atingir o público que um Jornal Nacional alcança. Mas já é um excelente começo. Eu diria que é uma terceira via.

As mulheres lutaram por seus direitos, queimaram sutiãs, e declararam sua liberdade e autonomia. Você acredita que a mulher moderna ainda possui os mesmos valores pregados por Betty Friedman e o feminismo em suas origens?

Não. O feminismo em suas origens é, ao meu ver, muito inadequado para a realidade. Houve conquistas, muito salutares por sinal mas, sinceramente - que me perdoem se eu estiver errada, mas é uma opinião - acho que isso se deve muito mais às mudanças relacionadas ao modelo capitalista - e agora neoliberal que impera na agenda internacional. Vejo mulheres que têm dificuldades de levar relacionamentos amorosos para frente porque seus pares se sentem diminuidos porque elas tem salários maiores do que os deles. E o que mais me deixa atordoada é que elas acham um absurdo passar a roupa ou fazer um almoço para o marido ou namorado mas, na hora de jantar fora, também acham um absurdo ter de dividir a conta. Ora, ou lá ou cá. Isso me parece incoerente. Penso que não deveria haver essa luta de egos. Já conquistamos e temos conquistado cada vez mais espaços. Contudo, me preocupa o fim da feminilidade, da doçura. E me preocupa, sobremaneira, a incoerência que expus mais acima. Qual o maior desafio da mulher hoje? Ser, ao mesmo tempo, boa mãe, boa esposa, boa profissional. Tudo ao mesmo tempo. De longe, a meu ver, o maior desafio.


Qual é o papel do homem na vida da mulher moderna?

Acho que nos tornamos muito competitivas e nos exigimos muito. Temos exigido muito também de nossos parceiros. Eles têm de estar no nosso nível (econômico, intelectual) e quando isso não acontece ficamos frustradas. E eu me pergunto: até que ponto isso é saudável? O homem hoje precisa ser um companheiro, alcançar nosso ritmo e mostrar disposição e preparo para acompanhar estar nova mulher, dinâmica e workholic que circula pelo mundo. Mas onde está o carinho, que tempo temos para o colo, para a conversa jogada fora? Para mim, isso é o que mais incomoda. Sinto falta de tempo com meu companheiro.


Qual a maior dificuldade de se sobreviver às exigências sociais requeridas à mulher hoje?

A dificuldade é se manter sã. Como se manter sã, de corpo, mente e espírito, se estamos correndo contra o tempo? No meu cotidiano tenho de agendar as atividades da minha secretária pois quase não fico em casa, acompanhar o desenvolvimento escolar de minha filha (o que significa ajudá-la nas tarefas escolares e comparecer às inúmeras atividades da escola), ser companheira de meu marido e apoiá-lo (ou não) em suas decisões e empreendimentos. Tenho de ser boa profissional porque o mercado é altamente competitivo e preciso acompanhar todos os avanços do tempo. Também sou filha, irmã, amiga. Então, penso que sobreviver a tudo isso é muito difícil é é preciso estar saudável, protegido - tanto emocionalmente quanto espiritualmente, eu diria - para não cair, porque a lambada é muito grande.

Anatomia de uma dor- Parte III

Visão Psicológica



A psicologia define a depressão como um fenômeno ocasionado por conseqüência de interações sociais realizadas por um indivíduo. Podem-se atribuir como aglutinadores deste processo as múltiplas influências culturais, como o stress, crenças, além de um alheamento gerado pelos moldes da cultura ocidental pós-moderna.

A palavra depressão possui sua etnologia do francês onde é definida como “abaixamento”. O autor e psicólogo estadunidense Burrhus Frederic Skiner, afirmava que todas as palavras designadas para representar sentimentos iniciaram-se de metáforas, portanto a psicologia aponta que a psiquiatria se incorpora à linguagem do senso comum, sendo aquela abrangente por examinar o depressivo em seu “abaixamento” físico, moral e em todos os âmbitos de sua vida, compreendendo-o por completo.

Para a psicóloga Ilma Goulart, a depressão é um estado emocional negativo, contudo passageiro. “As respostas aos sentimentos são difusas e estão relacionadas ao sentir. Sentem-se as emoções no corpo como um todo. Se existem problemas nas relações estabelecidas, certas reações corporais começam a acontecer e por meio de todo controle destas ações surgirá um estado emocional negativo”, ressalta.

A profilaxia do que psicologia denomina como “estado emocional negativo” deve ser realizada por meio da utilização da análise da história de vida de cada paciente que acomoda os sentimentos depressivos, procurar auxílio nas análises com psicólogos das além de acoplar tais práticas à utilização das drogas antidepressivas.







*Nome fictício para não haver exposição constrangedora da fonte.

Anatomia de uma dor- Pate II

Visão Médica


Para a medicina, a depressão é conseqüência de baixos níveis de serotonina, o neurotransmissor responsável por estabilizar o humor, o sono e o apetite, gerando insônia, cansaço, tristeza, dificuldade de concentração. Tal desarranjo pode ser observado na ilustração abaixo.


Segundo a psiquiatria a depressão é uma doença, ocasionada por predisposições genéticas (filhos de depressivos possuem três vezes mais chances de manifestarem depressão), além do uso de drogas e medicamentos (como os de emagrecimento) e doenças de oscilações hormonais.

Esta tese é reforçada pelo psiquiatra Geraldo Francisco do Amaral, pesquisador da Universidade Federal de Goiás (UFG). “Quando eu digo que um paciente é deprimido, especifico que ele tem uma doença biológica, provavelmente possui antecedentes genéticos na família, e está sofrendo desarranjos da química cerebral.”

Refutando as teorias da psicologia, a medicina afirma que a depressão não tem aspectos gerados por transtornos psicológicos, sendo estes apenas elementos desencadeadores de um processo outrora iniciado por meio da herança genética. “Quando a pessoa nasce, ela já possui uma vulnerabilidade pessoal e existem determinados marcadores individuais. Os aspectos psicológicos e ambientais podem ser fatores estressantes que vão contribuir para desencadear a depressão, porém jamais, uma situação psicológica irá causar uma depressão”, atesta Amaral.

A estudante Karla Fernandes* apresentou uma crise depressiva aos 17 anos quando se preparava para o vestibular, ela é filha de um depressivo além de possuir outros casos da doença na família. “Eu sofri de depressão profunda, acho que herdei isso do meu pai; precisei me afastar do curso preparatório para o vestibular por um ano, hoje estou bem, mas sempre atenta, vou ao psiquiatra semestralmente, uso os medicamentos prescritos e sou apoiada por minha família, meus amigos e meu namorado”, afirma.

Assim como Karla, a psiquiatria afirma que o depressivo deve buscar auxílio em um tratamento psiquiátrico, onde lhe serão oferecidas drogas antidepressivas, ou seja, medicamentos que corrigem o metabolismo dos neurotransmissores, além de acompanhamento psicoterápico e um reordenamento em todos os âmbitos da vivência pessoal deste indivíduo.






Anatomia de uma dor- Parte I

Olá pessoas, estarei postando aqui no blog uma reportagem que fiz com o tema depressão. Por ser muito extensa dividirei em três postagens!
Beijos


“Ninguém me disse que o luto se parecia tanto com o medo. Não estou com medo, mas a sensação é a mesma. A mesma agitação no estômago, a mesma inquietação, o bocejo, a boca seca. Outras vezes é como estar ligeiramente embriagado, ou em estado de choque. Há uma espécie de véu entre o mundo e mim mesmo. Custa-me assimilar o que qualquer pessoa diz. Ou talvez, o difícil seja querer assimilar. Tudo é tão pouco interessante, no entanto quero que os outros estejam a meu redor. Tenho horror quando a casa está vazia. Ah, se eles conversassem uns com os outros e não comigo!”

(C.S Lewis)


Talvez, Clive Staples Lewis (C.S. Lewis), seja conhecido apenas por seus feitos literários e por sua contribuição intelectual no Século XX, porém, o autor das Crônicas de Nárnia, revelara uma particularidade sombria à maioria daqueles que acompanhavam suas obras e pensamentos: A depressão.

Lewis desenvolveu o processo de anedonia, ou seja, incapacidade de sentir prazer ao realizar atos que normalmente seriam agradáveis, após a morte de sua companheira Joy Davidman. Lewis contraiu matrimônio com Davidson aos 56 anos, quando esta se encontrava em estado terminal de câncer em uma enfermaria. Embora o escritor soubesse que se casava com uma mulher que estava morrendo, a perda do cônjuge lhe causara um processo de recolhimento no âmago de seu luto.

Assim como Lewis, muitas pessoas padecem do que fora denominado como o “mal do século”. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) no ano de 2020 a depressão será a maior causa de incapacidade no mundo, perdendo apenas para as doenças cardiovasculares (DCVs).

A OMS ainda aponta que 120 milhões de pessoas no mundo sofrem de transtornos depressivos, e 17% da população mundial adulta ainda terá depressão em algum momento de sua vida, em especial as mulheres, que têm o dobro de chances de desenvolverem este desarranjo. Para a psicóloga Ilma Golart, este fato ocorre, pois, a mulher é uma rede de relações internas, ou seja, ela precisa exercer bem diversos papéis sociais, além das mudanças neuroquímicas (resultante dos fatores hormonais).

Na sociedade advinda do modelo capitalista, a cobrança por metas monetárias nos ambientes trabalhistas gera processos como o assédio moral, ou seja, a exposição dos trabalhadores a situações humilhantes durante sua jornada de trabalho. A maior conseqüência deste assédio, segundo a psicóloga Andréa Batista Magalhães, é a depressão acoplada a diversas doenças ocupacionais, transportando, portanto o indivíduo ao diagnóstico de depressivo.

Um depressivo apresenta um quadro clínico de insônia, ansiedade, pensamentos pessimistas, obsessão, apatia, desânimo, falta de vontade, palpitações, perda ou ganho de peso em excesso, falta de concentração, perda freqüente de memória, queixas físicas, prejuízos sociais e ocupacionais, dentre muitos outros, podendo variar de forma demasiada em cada caso.

A depressão é analisada por meio de diversas óticas científicas. As mais conhecidas são a visão médica e a psicológica, que contém distintas resoluções para a análise das causas da depressão e sua profilaxia.


NOTÍCIAS QUENTINHAS DA COZINHA....



"A formação em jornalismo é importante para o preparo técnico dos profissionais e deve continuar nos moldes de cursos como o de culinária, moda ou costura, nos quais o diploma não é requisito básico para o exercício da profissão" Gilmar Mendes (Ministro do STJ)
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Vamos ás cozinhas!

A crise é dos jornais e não dos jornalistas

Pessoal, saiu na VEJA desta semana uma reportagem com o jornalista americano Gay Talese. Por ser tão importante na história do jornalismo, além de fazer considerações interessantes sobre os rumos desta profissão e a utilização desta resolvi postar aqui esta matéria.

Vale a pena ler e refletir.



O jornalista e escritor Gay Talese, 77 anos, é uma lenda viva. Como repórter, é autor de perfis memoráveis, e ainda hoje é lembrado pelo texto que escreveu sobre Frank Sinatra, publicado pela revista Esquire em 1966. Como escritor, é autor de onze livros, alguns dos quais marcaram época, como O Reino e o Poder, sobre seu ex-jornal, o The New York Times, e A Mulher do Próximo, uma estupenda reportagem sobre a revolução sexual nos Estados Unidos. Somando o repórter ao escritor, Talese tornou-se um dos mais festejados criadores do "novo jornalismo" – que investiga com as ferramentas de repórter e relata com os recursos literários de escritor. Já ganhou uns 10 milhões de dólares com seus livros e mora numa bela townhouse no elegante East Side de Manhattan. Está escrevendo agora sobre seu casamento de cinquenta anos com Nan, respeitada editora de livros. Em julho, Talese planeja visitar a Festa Literária Internacional de Paraty, para promover Vida de Escritor, lançado há pouco no Brasil, mas nem de longe seu melhor trabalho. Talese recebeu André Petry, correspondente de VEJA em Nova York, em sua casa para uma conversa que se estendeu por quase três horas. A seguir, um resumo.



A LOROTA DO IRAQUE

A imprensa americana caiu na lorota de que havia armas de destruição em massa no Iraque por algumas razões. Primeira: os atentados de 11 de setembro criaram um clima de espanto. Uma coisa é falar de guerra lá longe, na Normandia, no norte da África, falar do general Erwin Rommel, de Mussolini, Hitler. Outra é sofrer hostilidades de forças estrangeiras dentro de Nova York. Era inacreditável, e George W. Bush capitalizou isso. Ganhou enorme poder. Era o nosso defensor contra futuros ataques e o árbitro sobre o que era bom para nós. Fomos induzidos a acreditar que o governo tinha informações que nem o público nem o Congresso conheciam. A imprensa, muito crédula e um pouco ingênua, entrou no clima. Segunda razão: havia um fervor patriótico. A imprensa se sustenta com publicidade, e o pessoal tinha receio de ser percebido como antipatriótico – o que naqueles dias era o mesmo que ser anti-Bush – e acabar financeiramente punido, com os anunciantes debandando. O comediante Bill Maher fez uma brincadeira em seu programa na rede ABC, dizendo que os terroristas podiam ser chamados de tudo, menos de covardes, e foi retirado do ar. Essa atmosfera durou uns dois anos. Terceira: os jornais, Washington Post, The New York Times, efetivamente acreditavam no governo, e, por último, os repórteres que cobriam Washington eram muito diferentes dos repórteres do meu tempo, que cobriram a Guerra do Vietnã nos anos 60. Não eram céticos."

A NOVA GERAÇÃO

"Os repórteres que estavam em Washington em 2002 não tinham o ceticismo, o estranhamento necessário. Foram educados nas mesmas escolas que o pessoal do governo. Eles vão às mesmas festas que o pessoal do governo. Seus filhos frequentam as mesmas escolas. Todos nadam na mesma piscina, pertencem ao mesmo clube de golfe, vão aos mesmos coquetéis. São repórteres prontos para acreditar no governo. É assim hoje, e era assim em 2002. Os repórteres estavam prontos para acreditar no governo sem pedir provas, evidências, nada. Por pouco, não acusaram Saddam Hussein de ter patrocinado os atentados de 2001. Eram como um bando de pombos para os quais o governo jogava milho. Os repórteres de hoje cobrem a guerra dentro dos tanques das tropas americanas. É ridículo. Um repórter deve prestar contas ao seu jornal, e não ao coronel que está protegendo a sua vida. Num evento público, eu me encontrei com o Arthur Ochs Sulzberger, que hoje dirige o Times, e disse a ele que isso estava errado, que repórteres não podiam trabalhar com militares, mas ele acha que estava certo. Na minha geração, éramos diferentes, éramos de fora, como estrangeiros. Podíamos ter nascido nos EUA, nossos pais podiam ter ido à universidade, mas ainda assim nos sentíamos como estrangeiros. Éramos todos de classe social mais baixa. Éramos judeus, irlandeses, italianos, alguns eram negros. Minha geração não era composta de anglo-saxões que estudaram em Harvard, Yale ou Princeton, que formavam e ainda formam a gente que vai trabalhar no governo ou em Wall Street. No meu tempo, James Reston (1909-1995) era chefe da sucursal do Times em Washington. Reston nasceu na Escócia, mas tinha muito orgulho dos Estados Unidos. Abe Rosenthal (1922-2006) era judeu, nascido no Canadá, seu pai era da Rússia. Meu amigo e o melhor repórter da minha geração, David Halberstam (1934-2007), era judeu, seu pai era um médico militar. Halberstam tinha um senso crítico, um ceticismo notável a respeito deste país. Harrison Salisbury (1908-1993) cobriu a II Guerra e, nos anos 50, foi à União Soviética quando Stalin estava no poder. Salisbury não acreditava em nada. Não acreditava em Stalin, nem em Dwight Eisenhower. Salisbury era como todos nós, de fora. No Vietnã, Salisbury foi para Hanói antes dos soldados americanos para pegar histórias do outro lado. Se Halberstam ou Salisbury estivessem vivos e trabalhando em jornalismo, jamais teriam comprado essa lorota do Iraque. O Times não teria tratado como informação o que era apenas desinformação e propaganda."

A IMPRENSA E O GOVERNO

"O governo usa a imprensa mais do que a imprensa usa o governo. Hoje, devemos ter uns 10 000 repórteres em Washington. Há uma civilização inteira de jornalistas em Washington. Se eu dirigisse um jornal, eliminaria de 50% a 60% da sucursal de Washington e mandaria os repórteres para outros lugares do país, para Califórnia, Nebraska, Flórida. Sabe o que aconteceria? Estaríamos tirando a ênfase sobre o governo e neutralizando sua capacidade de controlar o discurso político. Em vez de ficarmos segurando o microfone para o governo falar, estaríamos trazendo notícia sobre como as decisões do governo são percebidas e como são sentidas longe de Washington. Isso é vida real. É cobrir os efeitos das medidas do governo sobre a economia, a gripe suína, seja o que for, mas longe do governo e perto da sociedade. A multidão em Washington decorre do fato de que as pessoas adoram o poder e ficaram preguiçosas. Jornalista ama o poder, ama lidar com o poder."


OS MALES DA TECNOLOGIA

"Com as novas tecnologias, e sobretudo com a criação da internet, o público hoje é informado de modo mais estreito, mais direcionado. Na internet, os jovens se informam de modo muito objetivo, no mau sentido. Eles têm uma pergunta na cabeça, vão ao Google, pedem a resposta, e pronto. Estão informados sobre o que queriam, mas é um modo linear de pensar e ser informado, que não dá chance ao acaso. Quem está interessado em saber sobre o presidente do Paquistão vai à internet, fica sabendo que ele andou visitando Washington, quem é o seu principal oponente, essas coisas. Quem lê um jornal impresso lê sobre tudo isso e depois, ao virar a página, lê sobre a mulher do Silvio Berlusconi, depois sobre as chinesas que perderam seus filhos naquele terremoto, depois sobre o desastre do Air France que saiu do Rio para Paris. Enfim, lê histórias que não procurou e, por isso, acaba adquirindo um sentido mais amplo do mundo. Claro que você também pode fazer isso na internet, mas o apelo da internet é o oposto. É oferecer informação rápida. A internet é o fast-food da informação. É feita para quem quer atalho, poupar tempo, conclusões rápidas, prontas e empacotadas. Quem se informa pela internet, de modo assim estreito e limitado, pode ser muito bem-sucedido, ganhar muito dinheiro, mas não terá uma visão ampla do mundo. Para piorar, surgiram esses blogs com blogueiros desqualificados, que apenas divulgam fofoca. São como uma torcida num jogo de futebol que fica o tempo todo gritando para os jogadores, para o juiz. É gente que não apura nada, só faz barulho."


O POLITICAMENTE CORRETO

"O politicamente correto é um veneno para o jornalismo. Em 2006, aconteceu um caso exemplar. Na Carolina do Norte, uma mulher foi contratada para dançar numa festa dos jogadores do time de lacrosse da Universidade Duke e disse que bebeu demais e acabou estuprada por três jogadores. O caso ganhou as primeiras páginas. Os jornais nunca publicaram o nome da moça, e divulgaram fartamente o nome dos rapazes acusados do estupro. Ela era negra. Eles eram brancos. No fim, descobriu-se que ela era uma mentirosa. Os jornais, o Times inclusive, protegeram a mentirosa e expuseram os inocentes. Por que o Times fez isso? Porque queria ser sensível à situação de uma afro-americana. Jayson Blair, que publicou várias mentiras como repórter do Times, é outro exemplo. Ele foi contratado porque o jornal queria ter mais representantes das minorias, e Blair era negro. Foi contratado por Gerald Boyd, o primeiro negro a chefiar a redação do Times. Acima dele estava apenas o diretor de redação, Howell Raines, um branco do sul. Boyd e Raines queriam ser politicamente corretos e contrataram Blair porque era negro. E, porque era negro, faziam vistas grossas para os seus erros, deixavam passar, até que a coisa estourou. Só foram tolerantes com os erros de Blair porque queriam ser politicamente corretos. No jornalismo, isso não funciona. O jornalismo tem de ser vigilante, justo, realista, disciplinado, e não se preocupar em ser ou parecer politicamente correto."




O FUTURO DO JORNALISMO

"A crise dos jornais americanos não é uma crise do jornalismo americano. Moro em Nova York há cinquenta anos. Já vi muitos jornais fechar as portas. Nos anos 60, acabou o The New York Herald Tribune, que era um grande jornal, mas grande mesmo. Antes, fechou o tabloide New York Daily Mirror. Eu cresci lendo revistas como Life, Saturday Evening Post, Look, e nenhuma delas existe mais. Em Nova York havia quinze jornais. Quando cheguei aqui, em 1959, eram sete. As pessoas esquecem que os jornais vão e vêm. O jornalismo, não. As pessoas vão sempre precisar de notícia e informação. Sem informação não se administra um negócio, não se vende ingresso para o teatro, não se divulga uma política externa. Todos os dias, nos jornais das cidades grandes ou pequenas, repórteres vão à rua para fazer o que não é feito por mais ninguém. De todas as profissões, se um jovem estiver interessado em honestidade e não estiver interessado em ganhar muito dinheiro, eu aconselharia o jornalismo, que lida com a verdade e tenta disseminar a verdade. Há mentirosos em todas as profissões, inclusive no jornalismo, mas nós não os protegemos. Os militares acobertam mentirosos. Os políticos, os partidos, o governo, todos fazem isso. O escândalo do Watergate é uma crônica de acobertamento. Os jornalistas não agem assim, não toleram o mentiroso entre eles. Acho uma profissão honrosa, honesta. Tenho orgulho de ser jornalista."