Fatal!


Hoje me obriguei escrever. É assim que tenho me tratado ultimamente: me obrigado!
Sinto falta de trocar palavras, como um bêbado troca as pernas, um tanto sem noção cambaleia, cambaleia e errante acaba chegando em algum ponto inesperado da sarjeta para em fim dormir tranqüilo, ser assaltado, violado e etc...

Assim atua em mim o rumo das palavras. Digito pela obrigação alcoólica que me é imposta. O que acontece depois eu desconheço, só acordo em um estado de semi-lucidez procurando nos bolsos da calça surrada onde estão os últimos centavos que apostei em mim.

O bêbado sabe que a cachaça não presta, ele sofre de cirrose, gastrite, dor de cabeça, um odor lastimável e aparência que causa asco, mas mesmo assim, consegue enxergar o brilho mágico das garrafas, o cheiro inebriante da cana, o sabor deste elemento líquido antes de ser provado já lhe denota uma alegria mórbida desconhecida, porém irresistível.

E assim acontece comigo, tenho certezas agarradas, grudadas como o odor alcoólico, sei que não deveria escrever, sei que minhas palavras causam estranheza, mas a força da sintaxe cintila ante meus olhos e não consigo deixar o vício fatal que esta me esfrega à face.

Dizem que um alcoólatra é feito do primeiro gole, eu a alcoólatra das palavras nasci no momento em que me levaram ao conhecimento de minha mãe, que deitada sobre uma maca da maternidade olhara minhas mãos e disse: esta menina vai ser artista, ou música.

Não virei artista, nem cheguei perto dos dotes musicais, mas para desgosto dos pais do bêbado, virei jornalista. Desculpem, é mais forte que eu...