Uma situação de sombras



Entrevistei, Dom José Luís Azcona Hermoso, bispo da prelazia de Marajó, no Pará. Ele é apontado como um ícone na luta contra o tráfico de pessoas e exploração sexual de menores. Por suas denúncias tem seu nome inscrito na lista negra dos "barões do tráfico". Segundo ele, o tráfico humano está infimamente atrelado a outras três atividades ilícitas: tráfico de armas, narcotráfico e exploração sexual de menores. Dom Azcona ressalta que a desarticulação das quadrilhas que cometem esse crime é extremamente difícil, pois, este é um negócio bilionário que conta com a conivência de autoridades.

Qual é a realidade do Brasil no tráfico de seres humanos?

A situação do Brasil no tráfico de seres humanos é uma situação de sombras. Não existe uma estatística científica sobre essa realidade de flagelo humano que se abate sobre todo o Brasil, mas realidades conexas com o tráfico humano, como por exemplo, exploração sexual de menores, turismo sexual dão uma visão desta problemática que logicamente permanece oculta pelas próprias razões do negócio de tráfico de pessoas pelo estrangeiro e também pelo controle de organizações de nível internacional, que exercem influência até sobre meios de comunicação, de maneira que não é fácil o combate contra essa realidade e tão pouco o conhecimento da mesma, já que repito, o grande fenômeno da venda de pessoas leva consigo a ocultação, o segredo criminoso e a manipulação cuidadosa controlada por grandes organizações mundiais.

O tráfico ocorre por conivência de pessoas com grande influência social, como políticos?

Não se pode provar. Não temos essas provas, pois elas levariam à denúncia e consecutivamente a processos. Mas devido à interação do tráfico de pessoas com narcotráfico, tráfico de armas, a interação e a organização de muitos casos dessas quatro atividades criminosas, leva a pensar que existem políticos no meio e sem dúvida nenhuma ganham muito dinheiro. São R$ 32 bilhões anuais bilhões que estão em jogo, no mundo através do tráfico humano. Sem dúvida nenhuma podemos deduzir que alguns políticos estão envolvidos nesse tipo de atividade criminosa.

Quem é o traficante de pessoas?

O traficante pode ser qualquer pessoa. Ele pode iniciar desde um extrato social baixo e crescer com as máfias organizadas, até tomar o controle, como acontece no tráfico de drogas. Não se pode definir muito bem quem é que controla e leva para frente esse tipo de atividade, mas, sem dúvida nenhuma, são pessoas com forte poder econômico, e portanto, eles controlam um capital, investindo e produzindo através da escravidão humana, vendendo e comprando pessoas. Por exemplo, em 2007, um colaborador nosso conseguiu, com ajuda da Polícia Federal, se infiltrar em uma dessas máfias, que levava mulheres, incluindo até mesmo menores, para a Guiana Francesa e prenderam o grupo e o chefe da máfia, no Oiapoque, fronteira com a Guiana. Em dez horas desde a prisão deste criminoso, se apresentaram seis advogados para tirar da cadeia esse chefe da máfia. Se em dez horas esse grupo disponibilizou seis advogados, sem dúvida, muito qualificados, isso indica que a retaguarda tem muito dinheiro e que os organizadores são grupos poderosos. Em segundo lugar, esses grupos são inescrupulosos, como se pode comprovar pelo desfecho desse fato. O criminoso ficou somente um mês na cadeia, uma vez liberto, comunicou por telefone ao homem que tinha se infiltrado na organização criminosa dele dizendo: “eu vou te matar”. Esta ameaça apareceu na Revista Época e neste mesmo ano, no dia 9 de setembro era eliminado esse homem que descobriu o esquema do tráfico de mulheres para a Guiana Francesa. Isso supõe que eles são um grupo econômico organizado e ao mesmo tempo sem escrúpulos agindo diretamente na eliminação das pessoas, contra toda a lei. Eles são grupos paralelos, que a sociedade tolera.

Qual é o perfil da pessoa traficada?

Entre dois motivos, fundamentalmente é a necessidade econômica, e junto com ela, a proposta ilusória de paraísos, que há nessa vida, em outros lugares do mundo reservados especificamente para essa mulher. Na nossa região, em meio do ambiente de pobreza extrema, que se encontra nossa população, são extraídas das vítimas, voluntárias muitas vezes, e em outras ignorantes, o que de fato as aguarda nesse tipo de tráfico humano. Se já em maio de2009, o programa da Globo, Fantástico, transmitiu uma notícia sobre a venda de pessoas no Brasil, aqui no município de Portela, onde o jornalista supostamente comprava de uma mãe, uma menina de 17 anos por R$ 500,00 e a de 10 anos, por R$ 10,00 ou quatro louras (cervejas), para passar uma noite. Esse detalhe é um sinal, que responde a sua pergunta. Nesse meio ambiente de miséria, econômica e humana é que são levadas essas mulheres para o fim do mundo para serem compradas e vendidas como animais de estimação que valem dinheiro.

Uma vez dentro desse esquema, existe a possibilidade dessas pessoas voltarem para sua realidade de origem?

É muito difícil, por aqui os casos que conhecemos são de tristeza. Por exemplo, uma mulher traficada para a Espanha, na cidade de Saracura, estava se prostituindo, e ao tomar uma dose excessiva de êxtase, perdeu o controle de si mesma e foi repatriada. Ela retornou a Portela (PA), seu município, mas, ficou para sempre perturbada, uma mulher que não tem capacidade de socialização, é agressiva, completamente insana, apesar de todos os tratamentos. Outras não têm oportunidade de voltar, pois são assassinadas, como por exemplo, ano passado, uma menina de 25 anos, aqui de Breves, foi assassinada na Guiana Francesa, para roubarem o dinheiro que tinha, por parte de garimpeiros, possivelmente. Esses ambientes para os quais elas vão e são vendidas, dificultam muito o retorno, por que no momento determinado, o preço que elas valem prevalece sobre a própria dignidade da vida humana, portanto, muitos casos que conhecemos é de um final trágico, se não com morte, existe uma situação de escravidão permanente, muito difícil para se libertar.

Existe algum projeto governamental para investigar esses casos?

É interessante como historicamente, a partir do Marajó, as denúncias que junto comigo, dois irmãos bispos, Dom Erwin Kräutler, de Altamira (PA), e Dom Flávio Giovenale, de Abaetetuba(PA), que também estão ameaçados de morte, como eu, por diversas causas, e uma delas é a exploração sexual de menores, a partir daí se levantou um clamor forte, que levou a uma CPI contra a exploração sexual de menores, repito, uma atividade muito conexa com o tráfico humano, sobretudo mulheres, e mais particular, adolescentes. Isso ganhou uma enorme repercussão, aqui no Pará e em toda a nação. Ao mesmo tempo no Senado, o senador Magno Malta levou para frente, o que paralelamente estamos trabalhando aqui, algo que todo o Brasil conhece, que foi a CPI contra a exploração sexual de menores. Uma das conclusões foi que devido à grande conexão entre as duas atividades, é necessário organizar uma CPI, no Senado que lute contra o tráfico humano. Aqui no Pará, já acontece há nove meses, uma CPI para a investigar o tráfico de mulheres, para fins sexuais e têm se descoberto, que não somente aqui no estado, existem atividades de organizações e grupos de tráfico humano de órgãos, não posso especificar mais, porém essa é a realidade. Esta comissão também tem denunciado abusos contra adolescentes e menores, que iludidos com promessas de um futuro esportivo brilhante, são transportados irregularmente para São Paulo e Rio de Janeiro, a fim de serem comprados ou alugados, para jogarem futebol.

O senhor é apontado como uma das pessoas marcadas pra morrer, em decorrência de suas denúncias. O senhor tem medo?

Bom, essa é a pergunta que todo jornalista faz. Eu penso na morte com muita freqüência, quando, por exemplo, pela manhã abro a porta para ir à capela da casa do “bispo”, para rezar, penso “por traz dessa porta pode estar o meu assassino”. Quando tenho de atravessar o corredor que me leva para a capela, tem uma sacada e penso, “dentro daquela sacada, um rifle pode acabar facilmente com a minha vida”. Tem uma sombra no amanhecer e o pensamento da morte me acompanha, não somente nesses momentos, mas quando vou ao interior, o barco que estou, no mato, sobretudo os rios pequenos, pois, possuem os igarapés, penso, que em uma facilidade qualquer, com um par de metralhadoras podem acabar com o nosso barquinho da paróquia. Esse pensamento me acompanha muito, porém, Deus é mais e mais forte, posso dizer claramente que Ele tem tirado toda angústia e ansiedade, pela graça Dele, unicamente, não tenho perdido um minuto de sono, e mais ainda, penso que se um dia puder entregar meu sangue por Jesus, que derramou o seu preciosismo, por um pecador tão grande como eu, para mim será verdadeiramente o dia mais feliz da minha existência. Se um dia eu puder dar a minha vida por esse povo, aqui do Marajó, para mim será o final do meu ministério episcopal, na maior alegria, na maior glória, para honra de Deus e realização para aquilo no qual Ele me enviou aqui, de maneira que isso é graça de Deus, sou consciente do perigo que corro, mas ao mesmo tempo estou muito mais consciente da herança, para qual Cristo me escolheu.

Anápolis na rota do tráfico de mulheres

O Texto e a foto são de minha autoria

O que restou para a família de Simone foi uma foto, a sensação de impotência, impunidade, além do vazio eterno ocasionado pela saudade. A jovem de 23 anos deixou o Brasil em busca de melhores condições de vida na Espanha.

Aliciada por uma quadrilha que trafica mulheres para fins sexuais, Simone morreu misteriosamente no país desconhecido, apenas três meses após sua chegada. Até hoje, os pais buscam explicações para o fato e alegam que nunca mais foram os mesmos desde o falecimento precoce da filha.

Simone faz parte da obscura estatística, que não possui números precisos para medir a quantidade de seres humanos vendidos e explorados como animais fora do país. Os ativistas na luta contra essa realidade, como o bispo de Marajó (PA), afirmam que isso acontece, pois, as quadrilhas são grupos tolerados pela sociedade, por seu alto poder econômico e a alta capacidade de inescrupulosamente agir diretamente na eliminação das pessoas, que as denunciam.

O tráfico humano para exploração sexual é a terceira maior fonte de renda ilegal do mundo, estima-se que por ano, quase um milhão de pessoas são traficadas, destas 98% são mulheres, que geram mais de 32 bilhões de dólares ao mercado negro. O Brasil lidera o vergonhoso ranking dos maiores exportadores de mulheres, com 85 mil vítimas.
E dentro dos números brasileiros, Goiás figura como um dos campeões nacionais no tráfico de pessoas, sobretudo mulheres e Anápolis é rota para essa viagem, muitas vezes sem volta. Para o membro do Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (NETP), o juiz Rinaldo Aparecido Barros, muitos aspectos auxiliam para esta perspectiva, entre eles, a beleza da mulher goiana, mão de obra predileta e prioritária para os traficantes, que fazem falsas promessas de emprego como babás, modelos e até mesmo a prostituição é apresentada como uma oportunidade mágica de enriquecimento.

Ele alega que o tráfico de mulheres é muito mais vantajoso para um traficante, que o próprio tráfico de drogas, uma vez, que a mulher explorada não é descartável e sim, pode ser reutilizada por meio de diversas vendas, sendo esse ciclo encerrado, apenas com a morte ou o enlouquecimento da vítima.

Ao chegar no país, a realidade já é outra totalmente diferente. As mulheres adquirem uma dívida com o traficante, que lhes cobra o valor da passagem, hospedagem, a exigência de uma porcentagem dos (muitos) programas que são obrigadas a realizar, além de cercearem a liberdade, subtraindo-lhe o passaporte, não permitindo que elas transitem livremente pela rua, ou falem ao telefone sem monitoramento.

Na senzala do século XXI, as escravas sexuais, são algemadas às dívidas impostas pelos “barões do tráfico”, que a cada dia aumenta, tornando-se impagável e fazendo da alforria um ato praticamente impossível.

Imputações pelos mais variados motivos geram multas absurdas, como uso de tênis, não se pode descer dos quartos de sandália, deitar no balcão, passar da hora, é proibido ir à rua com roupas curtas, as atividades exploratórias sempre devem se iniciar em um horário determinado. Quem infringe essas normas paga multa. As mulheres também pagam multa por cada cliente recusado, ou seja, é praticamente impossível se libertar desse cativeiro e para conseguir dar conta das “regras”, essas mulheres se vêem obrigadas a fazerem uso de drogas e álcool.

Mulheres de vida fácil?

Entre promessas de despesas pagas, emprego garantido e muitos sonhos de uma vida melhor, as vítimas do tráfico internacional de pessoas, têm como destinos mais freqüentes Espanha, Suíça e Portugal.

De acordo com a titular da Delegacia de Defesa Institucional, Marcela Rodrigues, o (a) aliciador (a), geralmente aborda as jovens oferecendo trabalho no exterior ressaltando sua beleza, suas características corporais e a facilidade para ganhar dinheiro. “Elas sabem dos desejos e das dificuldades dessas jovens e sabe convencê-las porque apresentam sua própria trajetória como vitoriosa. E, ainda, ressaltam a superioridade da mulher brasileira em relação às européias no que concerne à sexualidade e que seriam as preferidas dos homens estrangeiros. Esse discurso está todo baseado na subalternidade e na condição heterônoma da mulher”, destaca.

Por incrível que pareça, muitas vezes, o aliciador é uma pessoa próxima, e possui com a vítima, relações que envolvem afetividade. Para a psicóloga Cíntia Maia, da Diretoria de Políticas Públicas para as Mulheres, como já há um vínculo com o aliciador, existe um maior respaldo na hora do convencimento, que envolve promessas de uma vida farta e dinheiro em abundancia.

Vislumbradas com essas possibilidades elas encaram tais propostas, como uma oportunidade de crescimento, já que dados da Polícia Federal apontam que elas são em maioria, jovens de baixa renda, entre 18 e 30 anos, geralmente mães solteiras e responsáveis pelo sustento econômico financeiro de seus familiares.

Para Nelma Pontes, do NETP, a prostituição pode ser até uma opção pessoal, mas é preciso desconfiar do oferecimento de muitas vantagens. “Para vencer na vida, não existem facilidades demais é preciso desconfiar dessas propostas muito boas. Se a pessoa fizer uma conta matemática, o custo de vida lá é muito mais alto e para ter o mesmo padrão de vida daqui a pessoa precisa se desdobrar. Ninguém é muito bonzinho pra te ajudar na a ganhar na loteria”, critica.


Na mala muita decepção

A desarticulação das redes de tráfico humano é uma atitude arriscada e extremante difícil. De acordo com o bispo de Marajó, Dom Azcona, a atividade mobiliza bilhões e conta com a conivência de políticos e pessoas influentes, além de estar infimamente atrelado ao narcotráfico, tráfico de armas e exploração sexual de menores.

A delegada Marcela Rodrigues também expõe a dificuldade de desarticulação por conseqüência das próprias vítimas, pois há uma grande dificuldade para efetuarem denuncias e se desvincularem da rede. “A maior dificuldade para desarticular redes de tráfico de mulheres, é que as envolvidas com o tráfico têm muitas dificuldades em se perceberem como vítimas, devido ao fato do aliciador pertencer à sua convivência social; as relações são permeadas por contradições e um desejo muito grande de melhorar de vida, ser independente financeiramente e ajudar a família; e as condições de trabalho das mulheres que atuam no mercado do sexo no Brasil são difíceis e permeadas, também, pela violência”, explica.

Mesmo com as inúmeras dificuldades, já elencadas, muitas mulheres conseguem retornar ao Brasil através de instituições, como a Organização Não Governamental (ONG), “Resgate”, que possui escritórios em diversos países, e como o próprio nome revela, literalmente resgata pessoas que vivem em condições inumanas fora do país.

Uma vez, de volta à terra natal, essas mulheres enfrentam uma dificuldade imensa de readaptação, por conseqüência da história de terror vivida durante o tempo de permanência fora, além de muitas delas terem adquirido marcas irreversíveis, como as Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs), e o vício em álcool e drogas.

A diretora de Políticas Públicas para as Mulheres, Erondina de Moraes, ressalta que em muitos atendimentos feitos por sua diretoria, a mulher resgatada, possui bens como casa bem mobiliada e um bom carro, mas não encontra estrutura psicológica e monetária, para um recomeço em sua sociedade matriz. “Elas até têm uma casa organizada, levando as pessoas a pensarem que não há necessidade de apoio, mas o que não se sabe é que essas mulheres não têm como se manter socialmente”, acredita.

Mesmo com o NETP, um serviço governamental, que está à disposição dessas mulheres, poucas são as que buscam ajuda efetiva. Segundo Nelma, esse fato ocorre, pois existe a vergonha da sociedade, sobretudo da família. Ela também destaca que muitas não procuram o núcleo por já chegarem ao Brasil com problemas psicológicos e ainda precisarem lidar com a adaptação.


Combate educativo

As entidades têm encontrado um bom momento para resgatar as pessoas em situações exploratórias, visto que principalmente a Europa se encontra em uma crise recessiva da economia, e os trabalhos, inclusive os de cunho sexual estão em baixa monetária.

Se por exemplo, uma mulher cobrava € 100 por programa, com a crise foi obrigada a baixar seu preço para € 20, ou seja, a prostituição não gera mais riqueza como antigamente, e essas garotas, mal vêm conseguido recursos para a própria sobrevivência.

Mas, o principal foco do governo e das entidades de luta contra o tráfico humano (visto a dificuldade de desarticulação das máfias), é trabalhar com o viés educativo para a redução destes índices.

Com intuito de capacitar os órgão de repressão e de luta contra o tráfico de pessoas, será realizado no segundo semestre pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), um congresso internacional para discutir o tema. A nível municipal, o NEPT realizará em Anápolis em maio um seminário que visa debater entre sociedade, governo, Justiça e polícias a problemática do tráfico humano.

Goianos no mundo

Fabiana e o esposo, José, no Japão

Dados fornecidos pelo secretário de assuntos internacionais do governo de Goiás, Elie Chidiac revelam que existem cerca de 200 a 300 mil, goianos no exterior e muitos deles em situações deploráveis ocasionadas pela ilegalidade.

A maioria das mortes registradas, são por decorrência de assassinatos brutais, que de acordo com Chidiac, acontecem, pois esses imigrantes não têm acesso à Justiça, por que correm o risco de serem deportadas. Fruto dessa realidade, eles não têm direito de aquirir armas de fogo e procuram fazer “justiça”, com as próprias mãos com armas brancas e acabam gerando violência, como no caso de Bruno.

O secretário ainda ressaltou, que com a crise econômica, muitos goianos estão voltando pra casa, pelas baixas condições sociais oferecidas pelos países.


GOIANOS NO EXTERIOR:
200 a 300 mil.

LOCAIS E OCUPAÇÕES MAIS FREQUENTES:
EUROPA- imigraçao irregular, trabalhos de baixa escolaridade, semi-escravo, prostituição
JAPÃO E ORIENTE MÉDIO- predominantemente descendentes de cidadãos destes países, empresários e um pequeno nível de prostituição

MORTES REGISTRADAS:
2011- 8
2012- 10

TRANSLADOS:
4- cremados e financiados pelo governo
5- financiados pelo governo dos EUA
1 – financiado pela família

9 MORTES NA IRLANDA EM TRÊS ANOS:
8- assassinatos
1 – enfarto

O drama do sonho que vira pesadelo

O drama do sonho que vira pesadelo




Se fosse um livro, a história dos milhares de brasileiros que deixam o país sempre teria em comum as páginas iniciais. O sonho de adquirir uma vida melhor para si e a família deu asas para que todos eles voassem rumo ao desconhecido.

Essa idéia de uma vida melhor no exterior é recente, iniciando-se apenas na década de 70. Estima-se que mais de 100 mil brasileiros emigram todos os anos para outros países, destes, 300 mil são goianos que já moram e 70%, (210 mil) estão em situação irregular.

O anapolino Bruno Lemes de Sousa, de 28 anos, fazia parte desta estimativa. Saiu do Brasil rumo à Irlanda, com a promessa de mudar de vida, já que seria suspeito de participar do homicídio de uma mulher, além de dar uma condição monetária melhor aos pais e à filha de três anos.

No condado de Kerry, ele trabalhava como operário de uma fábrica local e nas horas vagas comprava e vendia carros para engrossar a renda. Para a família, ele se dizia muito feliz com a vida e a namorada brasileira, sempre falava em voltar, mas primeiro precisava ganhar mais dinheiro e garantir a estabilidade.

No dia 16 de fevereiro, Bruno ligou para a companheira avisando que levaria o carro para um cliente em outra cidade, mas chegaria a tempo do jantar. Não foi o que aconteceu. A partir deste dia, começou a jornada de angústia por notícias do jovem, e possíveis pistas para encontrá-lo.

Somente no último domingo (11), após 24 dias de buscas, a família e amigos foram informados que o corpo de Bruno fora encontrado em um pântano há 150 km da cidade onde morava, com sinais de violência.

Dois homens, um brasileiro e um irlandês são suspeitos do crime, que possui várias especulações. Um conhecido afirma que a vítima devia mais de € 9 mil, a ciganos; o jornalista Owen Conlon, porém, ressalta que a polícia local acredita que os suspeitos mataram Bruno, pois, este vinha flertando com a namorada de um deles.

Independente das razões que motivaram o crime fica uma família desolada que não terá direito de velar e se despedir do ente que foi em busca de um sonho e voltará em forma de cinzas, já que o translado do corpo em decomposição é inviável tanto de forma logística, como monetária.

Conheça a história de brasileiros que saíram pelo mundo, assim como Bruno, em busca de uma vida melhor e nem sempre essa foi a realidade encontrada.

A vida dele é um filme

Parece história de filme, mas não é, o anapolino Roger (nome fictício), deixou a mulher e a filha em Anápolis, com a promessa de um bom emprego na Bélgica. Ao chegar no país, a realidade era diferente: acomodações precárias, insalubridade laboral e um salário tão mirrado, que os vencimentos só davam para pagar as despesas básicas e enviar uma quantia à família.

A situação de Roger se complicou, quando ele perdeu o emprego. Como ele não conseguia economizar, se viu abandonado pelos amigos que o convidaram para morar no exterior, e obrigado a morar no metrô como um indigente.

Com aparência desfigurada, barba gigante e banho como uma raridade, ele conseguiu a compaixão de uma brasileira, que vivia da prostituição. Ela conseguiu com um conhecido, uma audiência para Roger, com o rei belga, que lhe ofereceu uma passagem de volta ao Brasil, na condição de deportado.

Roger aceitou com prazer a deportação e voltou a Anápolis, local de onde ele diz nunca mais querer sair.

27 dias de trabalho sem folga

Fabiana é descendente de japoneses e tem uma irmã que já morava no país de origem. Ao ver o marido, José, desempregado, a necessidade de ter a casa própria e a vontade de dar uma condição melhor à filha de dois anos, não titubeou em procurar uma agência que fornece empregos a brasileiros no Japão.

Na cidade Joso-shi, província Ibaraki-ken, Fabiana trabalhou junto com o marido, em uma fábrica de alimentos congelados, e levavam uma vida que ela categoriza como difícil e ruim.

No Japão, a carga horária é similar à do Brasil, de oito horas diárias e se ganha por hora, porém era raro uma jornada inferior a 12 horas, já que quanto mais se trabalha, mais se ganha. Fabiana, conta que por ser mãe, ela tinha direito ao domingo de folga, mas, o marido era obrigado a comparecer no trabalho inclusive nesses dias. “O Zé, por ser homem, não tinha direito às folgas no domingo, ele já chegou a trabalhar 27 dias direto, sem nenhuma de folga”, destaca.

Fabiana, disse que sentia falta da espiritualidade típica do Brasil, pois, os japoneses são frios e se sentem ameaçados com a presença de brasileiros, que em tempo de crise, por serem mais ágeis e produtivos, acabam faturando as vagas nas empresas. Como consequência dessa vida agitada, ela disse que ao longo dos três anos de vida no Japão, presenciou muitas mortes por enfarto, que as pessoas não tinham tempo para desfrutar das aquisições e para os religiosos como ela, havia missa a cada dois meses e em locais muito distantes.

O Tsunami foi um fator inesperado na vida do casal. “Ficamos preocupados principalmente por causa da nossa filha. Quando soubemos do risco de contaminação era muito maior nas crianças tomamos essa difícil dicisão, pois, ainda não estávamos planejando voltar, ainda tínhamos dívidas pra pagar, tínhamos acabado de comprar a casa, íamos começar a comprar os móveis. Viemos na fé, crendo que Deus proveria tudo”, relata.

Mesmo com a conquista da casa e de outros bens, Fabiana garante que não pensa em voltar ao Japão. De acordo com ela, existem valores que nenhum dinheiro compra. “Apesar de precisar ainda, porquê ainda estamos tentando nos estabilizar financeiramente, não quero voltar, pois, com tudo isso, vimos que o dinheiro não é prioridade na nossa vida e que lá não tínhamos tempo pra família, pra nossa filha. Não queremos que a creche crie a nossa filha, nós queremos criá-la e conduzí-la no caminho de Deus, coisa que lá não tem como. Dinheiro a gente se vira, aprende a viver com o que tem”, declara.

Em busca do American Lifestyle

A década de 90 registrou um índice elevado de brasileiros que foram tentar a vida nos Estados Unidos (EUA), e dentre eles estava Zenaido.

Em 1995, ele conseguiu um visto de turista, deixou a profissão de ourives e passou seis meses no país do Tio Sam, para ver como era antes de mudar-se definitivamente com a mulher e os filhos.

Depois da experiência inicial, ele voltou ao Brasil, montou uma oficina mecânica e por algum tempo desistiu da idéia de voltar. Mas um divórcio mudou o rumo dessa história e dessa vez Zenaido mergulhou definitivamente no sonho americano.

Como o visto era de turista, logo seis meses depois houve o cancelamento da permissão de estadia nos EUA, e como milhares de brasileiros, ele permaneceu ilegalmente por muito tempo. Começou um trabalho de “chapa”, em construção de casas de madeira, mas hoje já é dono de uma construtora e possui vários funcionários.

Durante esses quase 10 anos de espera pelo Greencard (visto para imigrantes), Zenaido se privou da convivência com os dois filhos, que só falava por telefone, carta e mais recentemente, via webcam. O filho do brasileiro, Tony, diz que mesmo com a ausência do pai, a vida que ele lhe proporcionou compensou a falta. “Foi um tiro no escuro, mas com isso, ele comprou varios imoveis aqui, a casa dele lá, carros, está pagando minha faculdade, eu creio eu que se ele nao tivesse feio isso, tudo que temos hoje seria bem menos, e olha lá se teríamos algo. Ele nao acompanhou nosso crescimento, nem nos convivemos com ele nossa infância, mas com tempo acabamos acostumando”, explica.

Zenaido, recentemente levou o filho mais novo para morar com ele e não pensa em voltar ao Brasil, embora com a conquista do greencard, passe as férias anuais aqui.

A Crise mudou a rotina da brasileña

Encontrei Maria, minha chará, em uma mercearia de um bairro da classe média alta, em Madri, durante uma viagem no ano passado.

Assim que descobriu que eu e meus amigos éramos brasileiros, se alegrou e prontamente veio conversar conosco, logo descobrimos que ela morava no mesmo prédio onde nos hospedamos.

A princípio fiquei constrangida em perguntar qual era a sua ocupação, mas antes que eu questionasse, ela parece ter adivinhado minha curiosidade e contou que morava com o marido no residencial para cuidar de um idoso, já debilitado e era babá da filha da vizinha.

Ela contou que o filho e outros cinco imigrantes, dividiam o aluguel de um apartamento próximo, pois só desta forma conseguiam juntar algum dinheiro para voltar ao Brasil e que a maioria dos espanhois não têm afinidade com brasileiros, pois muitos apresentam condutas inaceitáveis, como prostituição, furto, uso de drogas e outras infrações.

Com a crise, a “brasileña”, como é conhecida Maria, ressaltou que a situação dos imigrantes ficou muito difícil. “Antes se houvesse força de vontade, dava pra fazer muita fachina e os homens encontravam muito trabalho braçal, mas agora, com essa crise, não tem emprego nenhum, principalmente os homens”, ressalta.

O marido da cuidadora de idosos, já estava com a passagem comprada e voltaria ao Brasil em janeiro, já ela, ainda demoraria um pouco mais, porém, também desejava retornar, pois disse sentir muita falta da filha, dos netos e da vida que levava.



Por fim ela me abraçou, e disse que esperava o nosso grupo para servir-nos arroz e feijão. Infelizmente, não pudemos visitar a Maria, mas sempe lembramos da alegria de seu jeitinho brasileiro.



A casa da magia



As fotos são de minha autoria







Nárnia, a história fantástica do autor irlandês C.S Lewis, narra a saga de quatro crianças, que em meio à II Guerra Mundial, encontram uma passagem secreta através da porta do guarda-roupa, que os leva a um mundo onde alguns animais podem falar, as criaturas mitológicas abundam, e a magia é comum.

Assim me senti ao passar pela estreita porta porta aberta, quase imperceptível, em meio ao turbilhão de carros e pessoas que transitam pelo centro da cidade. Esse lugar chamado Luminária, livraria e cafeteria é como um portal que dá acesso a outro mundo repleto de histórias e fantasias.

Diferente de uma livraria comum, a Luminária abriga livros e discos de vinil, que já pertenceram a outras pessoas, sendo considerada um sebo. Mas não um sebo comum, existe naquele local, um forte apelo artístico e cultural.

Quem chega à Luminária, pode escolher a trilha sonora a ser ouvida através das mais de 30 mil opções encontradas nos discos de vinil. Quando cheguei o ambiente era invadido por uma ópera italiana a pedido de Joe, um turista do Rio de Janeiro, alguns minutos depois, o clima era contagiado pela rebeldia de Cindy Lauper, atendendo ao desejo da estudante de direito, Valquíria Duarte.

Valquíria tem 19 anos e é freqüentadora da livraria, segundo ela, a paixão por música é herdada da família que sempre prezou pela qualidade cultural. “Aprendi com meus pais a ouvir artistas antigos, sempre digo que a música de hoje não tem letra, só ritmo e sempre gostei de clássicos” e completa, “tenho um carinho especial por essa artista que escolhi ouvir hoje, a Cindy Lauper, na época do lançamento desse disco, nos anos 80, ela era a personificação da rebeldia, só que com a deturpação da música atual ela é considerada um nada”, desabafa.

Embalada pela rebeldia de Cindy, a estudante atualmente lê a obra da romancista policial Agatha Christie e revela que prefere os livros usados, pois estes adquirem a personalidade de seus leitores. “Aqui tem algo especial, que não encontro em uma livraria de livros novos é como se o livro adquirisse uma personalidade, pois quando passa de mão em mão ele começa a fazer parte da vida das pessoas”, acredita.



O Cult cibernético

Há dois anos Carlos Lázaro e seu irmão Manoel Messias, decidiram investir em um negócio cultural. Carlos deixou o Rio de Janeiro, a profissão em uma agência publicitária e junto com a esposa Vânia, migrou para essa nova realidade. “A idéia de criar a Luminária, nasceu no Rio de Janeiro, cidade que vivi por 36 anos; sou leitor assíduo desde a infância e freqüentei os sebos do Rio, unindo este hábito, com a vontade de voltar para Goiás, eu e meu irmão criamos a livraria”, destaca.
Em julho de 2009, a Tipografia Marília, um sebo que funcionou por quase meio século no centro de Anápolis estava à venda e os irmãos adquiriram o acervo para iniciarem o novo negócio.

Dentro da riqueza cultural encontrada no acervo estão discos originais dos Beatles e livros raros como os do imortal da Academia Brasileira de Letras, Benedito Nunes, que fora do mercado foram comprados pela casa Ruy Barbosa para serem reeditados.
Livros como os do imortal e o disco dos Beatles, possuem um canal de divulgação maior que a sede física da livraria. Desde 2005, o site “Estante Virtual” criou a maior rede de sebos do Brasil, com quase três mil cadastrados de todo o país.
O portal reuniu, em uma mesma estante, o acervo de centenas de sebos e leitores, criou um sistema de busca e compra de livros usados inédita na internet brasileira e contribuiu para a informatização e, consequentemente, para uma melhor organização dos sebos.

Para Carlos Lázaro o sucesso da venda na internet está na exclusividade que os consumidores querem ter. “Tem gente que valoriza uma obra em sua linguagem original, como por exemplo, do início do século XX, ligadas ao português arcaico, inclusive, os livros antigos, dependendo do autor são muito mais valorizados que os novos, e se uma primeira edição tiver sido autografada, para muitas pessoas a obra não tem preço”, explica.

O proprietário conta que a Internet auxilia na visibilidade e nas vendas dos produtos. Além da Estante Virtual, a livraria conta com um perfil de vendas no site MercadoLivre e no Facebook, onde são disponibilizados livros, discos e obras de arte como esculturas, pinturas e pirografias.

A internet é uma ferramenta auxiliando no comércio do que é ou não vendável, na tabela de preços e nos dá uma noção do mercado. “Sem a internet estaríamos cegos, boa parte dos meus clientes freqüentam a Luminária virtualmente, somos conhecidos no Brasil inteiro e já enviamos encomendas até para a França”, relata.

Das passeatas à carteirinha: uma mudança ou silenciamento consentido dos movimentos estudantis?


Das passeatas à carteirinha: uma mudança ou silenciamento consentido dos movimentos estudantis?

O movimento estudantil no Brasil nasceu em meados de 1937, sendo responsável por conquistas políticas expressivas, como a defesa do fim da Ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas e a posição contra o Nazifascismo, a luta contra a ditadura que durou de 1964 a 1985, participação ativa nas “Diretas já” e o movimento “caras pintadas”, que promoveu o Impeachment do Presidente Collor.

Os maiores momentos do movimento estudantil, estão ligados diretamente à luta por democracia, porém, atualmente, a maior luta dos movimentos é da implementação da carteirinha de meia entrada, que de acordo com os movimentos, é uma garantia do estudante para possuir formação intelectual e cultural, além de proporcionar atenção voltada excludivamente aos estudos, não precisando trabalhar para sustentar uma vida social de qualidade.

Advindo da nova perspectiva destes movimentos, que atualmente buscam construir junto com a sociedade, está Alzir Aguiar, que é o segundo presidente da União dos Estudantes do Estado de Goiás (UEE), provenientente do curso de Direito, de uma instituição de ensino particular e majoritariamente direitista, a Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC).

De sotaque típico do nordeste, uma figura marcante não só pela barba e o cigarro, Alzir fala com propriedade sobre a realidade universitária, o desinteresse dos estudantes por questões inerentes à política, perda de valores e a nova cara da juventude goiana, a quem ele se refere como “politizada”.
Tranquilidade política?

Com a recente redemocratização do Brasil criou-se um clima de tranqulidade política, já que foram conquistadas liberdades outrora cerceadas.

Para o presidente da UEE, o viés do movimento estudantil de apenas debater e levantar bandeiras foi substituído por um movimento de construção de ações, para de fato descobrir o que a juventude quer hoje. “Quando se fala em política, a juventude abomina essa palavra, isso é ruim, mas tem uma nuância de certo modo positiva. Essa abominação vem de toda corrupção e degradação do cenário nacional, com isso o estudante procura engrandecimento pessoal e pessoal para quando sair da faculdade e o movimento estudantil tem preenchido essa lacuna na sociedade, agindo na formação pessoal e profissional deste estudante”, acredita.

Muitos veículos de comunicação sugerem que o principal movimento estudantil, a UNE, de se tornaou um reduto de partidos políticos esquerdistas, como o PcdoB, chapa branca do atual governo, além das inúmeras acusações de corrupção e desvio de verbas públicas, para compra até mesmo de wisky e vodcka importada.
Aguiar admite que acontecimentos como os acima destacados acontecem, porém defende que não pode haver generalização de fatos considerados por ele como isolados. “Às vezes um fato quando ocorre, por menor que seja, sua repercussão negativa é bem maior que a positiva”, defende.

Porém, o presidente ressalta que é muito difícil separar movimentos estudantis do pensamento esquerdista, já que desde os primórdios estes sempre caminharam ao lado de teses socialistas, no entanto, ele enfatiza que não é mais discutida a polarização, já que antes do fim da Guerra Fria, o mundo deixou de ser bipolar, a discussão atual abrange um nível do comportamento social. “Hoje existe uma intervenção negativa de alguns partidos, mas é mínima, e aqui em Goiás, nós temos uma representação muito mais institucional que é a atual perspectiva que o estudante tem aderido; a UNB e a USP têm tomado posições muito interessantes, no sentido de levantar bandeiras independentes”, ressalta.

Embora Alzir ache interessante essas novas práticas independentes, ele diz achar uma “lenda”, a separação de movimentos estudantis do partidarismo.

Um novo conceito

Os filhos das conquistas do movimento estudantil cresceram em meio à recente calmaria política democrática, assistiram no Jornal Nacional os escândalos de corrupção e decidiram que mais importante que militancia era cuidar da própria individualidade.

Essa perspectiva trouxe mudanças significativas, de acordo com Aguiar, os congressos e eventos dos movimentos estudantis antes de apresentar debates políticos precisa adicionar boas doses de atrações culturais, caso contrário, a participação é mínima.
Outra consequência dessa geração são os relevantes índices da educação superior no Brasil, que deram um salto considerável, contando com cerca de 2 mil instituições de ensino. Porém, o curso superior tornou-se em certas situações mera fonte de lucro perdendo sua qualidade.

De acordo com o Ministério da Educação (MEC), 37% das faculdades obtiveram notas abaixo da média e quase 50 mil vagas correm o risco de serem fechadas. De acordo com Alzir Aguiar, essa realiade preocupa a UEE. “No Brasil essa é uma questão muito delicada, que vem desde a base, se o país não tiver essa preocupação de subsidiar e dar boa qualidade de educação, nós nunca vamos sair de um país de primeiro mundo, mas que ao mesmo tempo abriga um país de terceiro mundo”, pondera.

A nova bandeira

A meia-entrada em cinemas, circos, espetáculos teatrais, esportivos, musicais e de lazer é um direito garantido a todo estudante, e está baseado na idéia de que a formação do jovem é mais ampla do que sua simples ida à escola, incluindo também sua participação em atividades que o coloquem em contato com diversos tipos de produções culturais.

Alzir acredita que houve uma banalização do uso dessa carteira estudantil, e o movimento lançou a campanha “Com a UEE posso mais”, que visa criar uma série de parcerias com a iniciativa privada para agregar aos parceiros essa mentalidade.
O presidente critica o atual modelo de utilização das carteiras e diz que houve uma banalização inaceitável e com intuito de moralizar o uso da carteira estudantil, no dia 15 haverá uma audiência com o procurador geral de justiça, Benedito Torres, para discutir a evasão legislativa desta matéria.
Alzir defende que a meia-entrada deve ser restringida unicamente ao estudante e que atualmente o uso desta tem sido “prostituido” por empresas, tirando legitimidade das entidades estudantis e que a medida beneficia uma classe que não se sustenta e precisa de cultura para fazer a diferença na sociedade.

Código Florestal: mais do que um simples amor à natureza


A Lei N.º 4.771 de 15 de setembro de 1965, mais conhecida como Novo Código Florestal, que diz respeito às florestas e demais formas de vegetação pertencentes ao território brasileiro, definindo a Amazônia Legal, os direitos de propriedade e restrições de uso para algumas regiões que compreendem estas formações vegetais e os critérios para supressão e exploração.

Polêmico, o Novo Código divide opiniões e mobilizam setores da sociedade que vêem a necessidade de que seus interesses sejam mantidos ou inseridos.
A votação do código, marcada para a última terça (6), ficou para a semana que vem. O relator prometeu apresentar seu parecer na próxima terça (13). Nessa etapa deputados discutem mudanças que poderão ser feitas no texto que foi aprovado pelo Senado no fim de 2011.

A Câmara já havia votado uma vez o Código Florestal, em maio do ano passado, mas o assunto teve de retornar por causa das alterações. Na possível votação do dia 13, os deputados não poderão mais fazer mudanças de mérito, apenas decidir qual texto vai prevalecer, mas é possível retirar pontos da proposta.

Uma briga ideológica e financeira

De um lado ambientalistas, de outro ruralistas. Os primeiros pedem o veto do novo código, por considerarem que a aprovação cria condições para a ampliação do desmatamento. Já os produtores rurais alegam não depredarem o meio ambiente, e sim fomentarem progresso ao país.

A ex-senadora Marina Silva (sem partido) é uma das líderes de um movimento que formulou uma carta aberta criticando a política ambiental do governo. De acordo com esse movimento, uma tendência de aprimoramento da agenda de desenvolvimento sustentável que vinha sendo implementada ao longo de todos os governos desde 1988 foi invertido.

Em um trecho da manifestação, o movimento ressalta que o Novo Código fomenta a impunidade e a ganância. “Apesar das diversas manifestações de cientistas, juristas, pequenos agricultores, ambientalistas e organizações sociais das mais variadas áreas, denunciando os efeitos perversos que as alterações pretendidas pela bancada ruralista trarão para o presente e futuro do equilíbrio socioambiental no país. Mesmo assim, deputados e senadores aprovaram mudanças que premiam a impunidade e a ganância, afrontando diretamente nós, o povo brasileiro”.

Já, de acordo com presidente da comissão de meio ambiente, do Sindicato Rural de Anápolis, Randerson Aguiar, desde a criação do primeiro código florestal brasileiro, em 1965 existe uma série de emendas portarias e decretos que possuem itens constitucionais e inconstitucionais, e os produtores rurais que vem sendo multados estão enquadrados junto com os desmatadores. “Uma coisa precisa ficar muito clara é que os produtores rurais, do Oiapoc ao Chuí, a maioria não são desmatadores. A produção rural no Brasil é uma das que mais procura preservar o meio-ambiente, estão confundindo os produtores, com madeireiros que derrubam árvores, o agricultor não tem a necessidade de derrubar árvore”, defende.

De acordo com Randerson, as reivindicações feitas por ambientalistas, pessoas e entidades contrárias à aprovação do Código Florestal, advém de uma pressão de organismos internacionais, que teriam interesses econômicos camuflados. “Essa falácia que é pregada, de que nós produtores rurais somos grandes desmatadores é uma mentira plantada por ambientalistas e ONGs internacionais que têm um interesse muito grande, que consiste na redução da produção agrícola no Brasil, essa é a grande verdade, nós somos o único país que tem condições de produzir alimentos com qualidade possuindo um compromisso social e ambiental, colocando o Brasil em uma posição de desenvolvimento. Se tivéssemos uma boa política agrícola e tudo funcionasse muito bem, o Brasil não estaria na quinta posição dos países mais desenvolvidos, estaria bem mais à frente”, garante.

Os quatro temperamentos: O melancólico


“Carolina é uma menina bem difícil de esquecer andar bonito e um brilho no olhar” (Seu Jorge)

Quem conhece Carolina, assim como Seu Jorge, não se esquece. Uma menina mulher traz a marca da delicadeza em tudo que faz. Perfeccionista, ela cuida dos detalhes para que tudo tenha um toque especial: o toque da Carolina.

Introspectiva, Carolina é muito ligada às coisas da fé e do coração, por prezar valores atemporais, já chegou a morar em uma comunidade religiosa. Ela anda de forma discreta, porém sua singeleza é foco das atenções, mesmo que essa seja sua última intenção.

Tais atitudes são comuns às pessoas que possuem o temperamento melancólico, ou seja, elas têm sensibilidade artística, pela lealdade e pelo perfeccionismo, são amigos leais e bastante analíticos.

De acordo com mestre em psicologia clínica, o psicólogo Artur Vandré, o temperamento melancólico, ao contrário do que se espera pelo nome, é ligado aos sentimentos nobres. “O melancólico pode ter um semblante às vezes de triste, mas isso não quer dizer que ele seja, esta é uma característica de calma, tranquilidade e uma pessoa mais voltada a si, apreciadora de detalhes que nem sempre as demais pessoas estão atentas”, explica.

Mesmo com essa característica introspectiva e analítica, Vandré aponta que os melancólicos têm menor propensão a doenças como depressão, já que segundo ele, as pessoas que possuem esse tipo de temperamento trazem em si valores muito arraigados como fé e família, apoiando-se nestes para superar conflitos e dificuldades.

Para o psicólogo, os melancólicos têm a grande capacidade de se apaixonarem pela vida, cultivando o sentimento das outras pessoas, possuindo ainda o dom de transformar tais sentimentos em algo que possa ser expresso em suas habilidades.

Carolina, está dentro desta perspectiva, já que cursa Relações Internacionais atraída pela paixão à vida e pelos sentimentos da humanidade. “Quando decidi cursar Relações Internacionais, ao contrário da maioria dos meus colegas, que almejam a diplomacia, eu sempre sonhei em trabalhar nas missões humanitárias da ONU; me comovo muito com a dor das pessoas que tiveram suas vidas e sonhos destruídos pelas circunstâncias e sei que de alguma forma posso ajudar”, defende.

Artur ressalta que o melancólico tem sensibilidade aflorada para os valores sociais e está muito voltado à prática da ética, sempre buscando um mundo mais correto, porém, nem sempre terá as coisas organizadas da forma que ele imagina ser certo. “Nem sempre o melancólico terá tudo organizado, muitas vezes há a busca de que as pessoas organizem o mundo da mesma forma que ele, mas isso é impossível e não dá pra se frustrar com o fato de que segundo o seu juízo, só ele faz as coisas certas e os outros não”, pondera.

Com Carolina, não poderia ser diferente, ela se lamenta por esperar muito dos outros e sofrer em consequência disso. “Sou muito sensível, sempre me apego muito às pessoas e espero delas uma resposta semelhante às que eu daria perante os fatos da vida, daí quando as coisas não acontecem como previ, me frustro”.

O complexo de inferioridade é outra característica típica do melancólico, já que ele tem a tendência de não se considerar capacitado para as tarefas que lhe são designadas. “É preciso ter a consciência de que por mais talento que se tenha, sempre haverá alguém melhor que você: mais rico, mais bonito, mais inteligente ou habilidoso, porém, a melhor forma de se viver, não é se comparando com os outros, e sim, compara-se consigo mesmo; talvez você não seja o que gostaria, mas, já não é a pessoa que era antes, isso significa crescimento, ou seja, é preciso olhar pra si e ter visão de horizonte e não assumir a posição de coitadinho para chamar atenção”, adverte Artur Vandré.

Pontos positivos:

Capacidade analítica: pode observar um projeto em todos seus aspectos para a melhor tomada de decisão, dentre outros aspectos;

Sensibilidade: percepção artística e estética do ambiente e das situações; pode contribuir para diversos tipos de atividades profissionais;

Detalhismo: capacidade de percepção de informações essenciais e observação de detalhes;

Perfeccionismo: atenção à qualidade e cuidado com a valorização de um bom trabalho.

Pontos a negativos:

Egoísta: voltado para si, pode esquecer o grupo;

Humor: cuidar para que seu humor não seja percebido pelo grupo como negativo, pois, muitas vezes, é apenas mais reservado do que os demais;

Visão Holística: pode ater-se aos detalhes e perder-se da ideia global e visão do todo.

Sociabilidade: voltado para relacionamentos individuais ou para pequenos grupos, necessita ampliar sua rede de relacionamentos.

Criticidade: seu excesso de zelo por um trabalho pode tornar-se algo excessivamente crítico e até mesmo negativo, pois torna a entrega de suas atividades morosa, atrasada ou mesmo não realizada.

Os quatro temperamentos: O fleumático


Rubens é um nome advindo do hebraico, e seu significado é relativo a uma pessoa que, por saber ouvir sua intuição, quase sempre toma as decisões mais acertadas. Coincidência ou não, o professor de língua portuguesa, que possui o mesmo nome parece ter se encaixado na definição de sua nomenclatura.

Sempre educado, Rubens se preocupa em manter um ambiente harmonioso onde quer que esteja. “Uma vantagem na minha personalidade é que não tenho inimigos, pelo menos da minha parte, não pretendo ter nenhum e, além disso, gosto muito das pessoas, talvez por isso creio que tenho muitos amigos”, alegra-se .

A tal personalidade descrita por Rubens, se enquadra no temperamento fleumático, ou seja, qualidades do pacífico, prático, bem-humorado, leal, calmo e eficiente, cumpridor de seus deveres e conservador em seus princípios.
O psicólogo Artur Vandré explica que os fleumáticos têm a característica marcante de uma calma maior que as demais pessoas. “Ele consegue ter maior tranqüilidade em casa, no trabalho, nas relações humanas e na maior parte das vezes que lhe é exigido algo, o fleumático consegue corresponder de forma centrada, pois equilibra sua razão e emoções”, destaca.

Muitas pessoas definem Rubens como uma pessoa tranqüila, fato que ele discorda, pois, se considera centrado. “Minhas decisões sempre vêm após uma reflexão, mesmo que seja breve. Para escolha de minha profissão, hoje professor, pensei e repensei sobre o assunto, não me arrependo, aliás, não me arrependo de muitas coisas; creio que seja essa a minha consistência de personalidade”, define-se.

Vandré ressalta que pessoas fleumáticas como Rubens, geralmente são reflexivas, pensam a vida e dão tempo para o processamento do pensamento, portanto, respondendo aos fatos de forma mais assertiva.

Porém, o psicólogo alerta que por refletir muito, o fleumático pode se tornar passivo e muito dependente das outras pessoas, além de correr o risco de esconder seus sentimentos na máscara da introversão.

“Não consigo em alguns momentos de alegria ou surpresa expressar meus sentimentos. Muitas vezes isso me causa constrangimento por não conseguir falar o que eu preciso dizer naquele exato momento; no meu caso alguns sentimentos são retidos, acumulados. A minha esposa chega a dizer que o mundo acabou há três dias, e hoje que eu vou manifestar a minha opinião sobre o assunto, mas é claro que luto contra isso”, analisa Rubens.




Características:


De acordo com Artur Vandré, os fleumáticos podem se destacar em profissões que precisam de senso de observação, como, psicologia, enfermagem, medicina, odontologia, salvamentos, educação, arquitetura, engenharia, laboratórios, e se bem estimulado, ele poderá exercer cargos de liderança.

Pontos Positivos:
Liderança: assume a frente de um grupo, estabelecendo o caminho que deve seguir.

Diplomacia: capacidade de estabelecer relações com qualquer nível hierárquico.

Espírito prático: voltado à ação.

Bom humor: visão positiva da vida e das situações.

Pontos a Melhorar:
Introversão: embora tenha muitas qualidades, pode escondê-las na máscara da introversão.

Desmotivado: pode ter passagens de desmotivação e acessos de falta de vontade de continuidade.

Indecisão: pode demorar a tomar uma ação e perder o tempo necessário naquela situação.

Os quatro temperamentos: O colérico


Quando criança, Helena se encantava com a movimentação e a postura das repórteres na TV. Sua brincadeira preferida era usar o desodorante da mãe, não com o intuito de se perfumar, mas ser a nova âncora do jornal, filmado com o espelho da penteadeira.

Mais de uma década se passou e a obstinada Helena, contrariando a vontade da família, que gostaria de vê-la advogada, se formou em Jornalismo. “Quando paro pra pensar qual foi o objetivo exato que me fez escolher essa profissão fico sempre pensativa, parece que ela nasceu em mim, escolhi ainda quando eu estava na 7° série, por achar que era diferente das demais, além de me identificar com tudo que existe nela”, explica.

De acordo com a qualificação dos quatro temperamentos, Helena é uma colérica, ou seja, demonstra características ligadas a uma pessoa enérgica, independente e que age de forma prática.

O colérico geralmente possui um estilo mais analítico e gerenciador, pois não tem grande habilidade para trabalhos que envolvam minúcias ou ainda alto nível de precisão. É voltado para o lado prático das coisas, tendendo a ser uma pessoa de caráter enérgico, vivaz, ativo, ardente.

O mestre em psicologia clínica, Artur Vandré, explica que o colérico é um líder nato, tomando com facilidade decisões para si mesmo como para os outros. “A liderança do colérico gera nas pessoas algumas reações como o medo, quando ele chega seus subordinados sentem um frio na barriga, ele adquire respeito e as atenções todas voltadas para ele”, destaca.

Tendendo a ser objetivo, o colérico possui muitas ambições, uma firmeza inabalável, além, de possuir um estilo genioso, impetuoso, auto-suficiente e independente. “costumo guardar os sentimentos dentro de mim e quando eu resolvo coloca-los para fora é como um terremoto para mim e para os outros. Sou desconfiada demais e gostaria de realizar tudo na minha vida em um dia e morrer no outro”, admite a colérica Helena.

De acordo com Vandré, por mais que os coléricos possuam obstinação e até um certo autoritarismo, nem sempre conseguirão tudo que almejam. “É importante que ele saiba que suas emoções vivenciadas não são o parâmetro do mundo e nem sempre será obtida a obediência das pessoas e das circunstâncias”, enfatiza.

O psicólogo ainda explica que embora o colérico possua emoções mais afloradas, e seja mais independente no pensamento e na forma de viver, suas decisões não podem controlar eternamente a vida das pessoas. “É como um pai que fala mais alto e determina os rumos da vida do filho, um dia ele terá confronto. Seu filho não aceitará seguir algumas regras impostas como usar uma roupa que não é do agrado, chegar na hora estipulada, ou até mesmo seguir a carreira determinada”, ressalta.

Artur Vandré revela que por este caráter ambicioso, líder e obstinado, os coléricos se destacam em profissões como diretores de empresas, juízes, advogados e atividades cujo senso de direção e responsabilidade estão ativados.

Os quatro temperamentos: O sanguíneo

Pouca gente sabe, mas o ser humano funciona movido a um combustível denominado temperamento. O sistema é parecido com um automóvel: alguns são abastecidos com álcool, outros com gasolina, Diesel, gás e até luz solar.

Assim como existem inúmeras variedades de combustíveis, os diferentes tipos de pessoas são abastecidos com quatro temperamentos: Colérico, Sanguíneo, Fleumático e Melancólico.

Da mesma forma que o combustível define o funcionamento do automóvel, os temperamentos influenciam todas as formas de atitude humana, desde os hábitos do sono, alimentação, até a condução das relações interpessoais.

O pai da medicina, Hipócrates, que viveu entre 460-377aC, já estudava esses temperamentos e os relacionava com os quatro elementos da natureza “fogo, ar, água e terra”. Porém, somente com o advento da psicanálise esse conceito voltou a ser estudado e remodelado.

Vamos falar sobre cada temperamento, durante quatro posts, revelando esta influência eficaz e desconhecida. As fotos que ilustram as matérias são de minha autoria.

Sanguíneo:
Marina (nome fictício) é o tipo de pessoa que você gostaria de ter a amizade. Estudante de comunicação social, ela é extrovertida, adora contar piadas e reunir os amigos para assistirem um filme nas noites de sábado.

Todos medem seu humor através das piadas: se Marina já chega contando as habituais anedotas, o sinal é de que ela está feliz, porém, se estiver mais calada e dando respostas ríspidas, os amigos já sabem que algo acontecera.

Na classificação dos quatro temperamentos, Marina poderia ser considerada sanguínea, ou seja, dentre outras características é comunicativa, amável, generosa, porém, é volúvel, indisciplinada e impulsiva.

Assim como ela, os sanguíneos têm em seu estilo pessoal calor e profundidade em suas emoções, além da ação dinâmica, estilo vibrante, decisivo e falante. Seu estilo pessoal ainda indica sinceridade, entusiasmo e companheirismo para todas as horas e desinibição.

De acordo com o psicólogo Artur Vandré, o sanguíneo tem maior dificuldade para se descobrir como tal, pois sua capacidade de auto-análise e introspecção são reduzidas. “Para auxiliar no processo de autoconhecimento é muito importante dialogar com outras pessoas e ouvir o que elas têm a dizer sobre você, além de leituras e programas que estimulam o olhar para si”, destaca.

O sanguíneo é impulsivo e realiza muitos atos impensados, podendo ter uma coragem que camufla a pessoa medrosa que realmente é. Muitas vezes ele fala demasiadamente e não mede as conseqüências de seus atos. “Às vezes no calor das emoções falo muitas coisas que não gostaria para minha mãe, ou meu irmão, mas me arrependo rápido e logo faço as pazes”, explica a sanguínea Marina.

Para Artur Vandré, o comportamento impulsivo e a tendência de não cumprir compromissos podem ser educados e revertidos, através do autoconhecimento. “É necessário ter uma gestão do tempo, priorizar o mais importante, não abraçar mil coisas ao mesmo tempo e acima de tudo fazer uma observação de si mesmo”, ressalta.
O psicólogo explica que os sanguíneos podem se destacar em profissões que envolvam contato público, como vendedores, comunicadores, professores, advogados, atores e até políticos.

PONTOS POSITIVOS:

Capacidade de Comunicação: extrovertidos, falantes e dotados de grande facilidade de comunicar-se e fazer com que o público volte sua atenção para eles.

Empatia: coloca-se no lugar do outro, dotado de grande compaixão e sensibilidade por pessoas e suas causas.

Relacionamento Interpessoal: estabelece, com facilidade, relacionamento com os demais.

PONTOS NEGATIVOS:

Impulsividade/Precipitação: age com imediatismo, necessitando dosar e canalizar esta ação de forma positiva e ser mais comedido em algumas situações.

Indisciplina: adotar métodos em suas ações para que não sejam vagas.

Egocentrismo: cuidar para que suas ações não sejam feitas ao seu favor.

Instabilidade emocional: reage de forma muito emocional.

A quem interessa a greve 2?


Sempre que se fala em greve procura-se duas fontes: o sindicato e o governo. A versão desses dois pólos é importante, pois figuram as decisões que acarretam mudanças na vida de milhares de pessoas. Mas e essas outras milhares de pessoas, o que elas têm a dizer? Qual é a realidade que experimentam, longe dos conclaves de poder e ideologias?

Enquanto os olhares muitas permanecem apenas ao debate ideológico do plano de carreira, a verdadeira indagação é: Quem é o maior prejudicado com esses 30 dias de paralisação?

Carol Miranda, 16 anos, estudante do 2° ano no colégio Hely Alves: Ela quer passar no vestibular

Em dois anos, Carol passou por duas greves. A adolescente estudava no Instituto Federal de Goiás (IFG), que paralisou as atividades letivas por 60 dias no ano passado, e insatisfeita com essa realidade se transferiu para o Colégio Estadual Hely Alves, que por ironia foi um dos únicos que aderiu à greve da educação.

Embora ela apóie a causa dos professores, o sentimento de impotência diante dessa situação a entristece. “Me sinto pésima, pois ja é a segunda vez que isso acontece comigo¬ e me atrapalha totalmente,¬ eu sei que vou repor as aulas, mas isso pode acabar me deixando atrasada¬ porque, os professores passarão tudo às pressas¬ pra nós não ficarmos durante as férias”, lamenta.

Advinda do ensino fundamental em colégios particulares, Carol disse que sente a diferença latente e se preocupa com a forma que disputará uma vaga no concorrido vestibular e com acontecimentos como a greve, a disputa será desleal. “No colégio particular¬ os professores te preparam para o vestibular¬, já no colegio publico os professores só querem passar a matéria, quem gosta da greve é só aluno que não quer nada ”, detaca.

A estudante disse que não tem em mente o plano se seguir uma carreira de docente em escolas estaduais, mas, que se isso ocorrer, escolherá bem seu patrão, através do voto. “Os professores não tiveram culpa do governador ter prometido uma coisa e ter feito outra¬, ele precisa reconhecer o quanto está errado”, posiciona-se.
Questionada sobre quem é o maior prejudicado com a greve, Carol não titubeia em dizer que os alunos que têm ambição de um dia serem alguém e construirem um futuro pagarão por essa briga do Sintego e governo.

Bruno Roger Silva, 23, ex-professor: A docencia foi uma decepção

Alunos semi-alfabetizados, deficientes, usuários de drogas, entre outros. Salas utilizadas em sua lotação máxima, chegando a 45 alunos por turma, o que somado ao desinteresse e indisciplina, muitas vezes inviabiliza uma educação de qualidade. A inclusão, que é a insersão de alunos com as mais variadas deficiências em salas de aula regulares, sem o devido treinamento com os docêntes para lidar com estes, requer um tratamento diferenciado com adaptação de atividades e provas, causando transtornos tanto para “inclusores” quanto os “incluídos”, que às vezes se sentem rejeitados.

Essa é a realidade que o professor de português, inglês e espanol, Bruno Roger encontrou diante de um ano três meses de profissão. Desiludido, ele mudou totalmente de direção e assumiu na última quarta-feira (7), a carreira bancária.
Bruno, não é filiado ao Sintego, mas diz apoiar a causa dos professores, embora, lamente que reivindicações apareçam em ano eleitoral. “Infelizmente, apesar de acreditar que realmente a categoria dos professores devem reinvindicar seus direitos e que a forma como essa "reforma educacional" foi feita é no mínimo suspeita e estranha, acredito que não o sindicato, mas pessoas ligadas ao SINTEGO estejam querendo sim projetar seus nomes no cenário eleitoral”, acredita.

Para o ex-professor, a greve é uma guerra sem vencedores. “Todos sairam perdendo. De um lado os professores, ao meu ver os mais prejudicados, que, além de terem perdido a titularidade que consideravam um direito adquirido, perderam também o salário do mês de fevereiro que é, em muitos casos, a única fonte de renda da família e ainda terão que repor as aulas perdidas. De outro os alunos, que apesar muitos se sentirem felizes pela "folga", deixam de estudar e, tal qual os professores, deverão repor esses dias perdidos durante o mês de férias (julho). E por fim o governo, que julgo o menos prejudicado, que se vangloriava do seu "Pacto pela Educação" e se viu forçado a repensar suas estratégias para o Estado. No final, quem perde é a Educação em Goiás que mais uma vez foi tratada com descaso por nossas autoridades, que deviam olhar com mais carinho para esse bem tão importante para o futuro da sociedade”, defende.



A quem interessa a greve da educação?




“Os professores querem ganhar mais e mais”

Completando os 33 dias de greve dos profissionais da educação no estado, o deputado José de Lima do PDT comentou o assunto, demonstrando seu posicionamento quanto aos momentos de negociação que o poder público teve com a líder classista Ieda Leal, presidente do SINTEGO.

Em reunião com o governador Marconi Perillo nessa semana, o Deputado afirmou que as propostas em torna do tema da volta ao regime anterior, no qual os professores tinham uma gratificação pela titularidade. Segundo José de Lima não há possibilidade de os professores serem regidos pelo sistema anterior “é muito difícil o Governador voltar a titularidade, porque ele quer implantar outro sistema, por isso é possível que o sistema não volte a ser o que era antes” afirma.

Na mesma reunião foi acordado que uma comissão formada por 4 pessoas dentre elas a presidente do SINTEGO, um deputado, membro do Ministério Público e um membro da Secretaria de Educação do Estado; farão as analises viáveis para a formatação de uma solução definitiva, afim de que a greve chegue ao fim.

O deputado ressaltou que a categoria está resistente na aceitação das propostas do Governo “eles não são maleáveis, só para voltar a gratificação da titularidade. E foi o próprio Governador que criou a titularidade, mas através de pesquisas se constatou que não houve avanço algum na educação, por isso ele quer retirar e mudar o sistema de avaliação do professor” completou José de Lima.

Para o deputado a questão não se encontra apenas na reposição salarial, mas em acrescentar o salário dos professores “os professores querem ganhar mais e mais, o governo já deu aumento de 16%, mais que o município que deu apenas 6,4% de aumento para os professores”. Para ele quem mais sofre com a greve são os alunos e as famílias “quem mais tem perdido com essa greve são os alunos e as famílias de Goiás, que não tem como resolver o problema”.



"A Titularidade é um direito"


Com a aprovação de uma lei que prevê o achatamento da carreira e a incorporação das titularidades aos vencimentos como forma de se criar pagamento do Piso Salarial, o Sindicato dos Trabalhadores em Educação (SINTEGO) entrou em greve geral desde o dia 6 de fevereiro.

De acordo com o Sintego, caso o Plano de Carreira anterior fosse mantido, o professor com licenciatura e com gratificação por titularidade de 30%, estaria recebendo R$ 2.877,21. Com o plano atual, haverá um reajuste de apenas 1,7% e receberá R$ 2.016. Ou seja, o professor vai ter redução salarial. No exemplo citado, vai ser de R$ 861. O professor vai demorar nove anos para recuperar esse prejuízo.
A entidade ressalta que o problema se agrava se considerado que os professores terão reajustes diferentes, dependendo do porcentual de gratificação por titularidade. Ou seja, quanto mais cursos o professor tiver, menor será seu reajuste salarial com as mudanças no plano de carreira.

A gratificação por Mestrado e Doutorado caiu, o docente que tiver e respectivamente, de 40% e 50% sobre o vencimento receberá apenas 10% e 20%. Além disso, os professores que ainda não tinham essa gratificação, não terão mais nenhum incentivo salarial de recompensa pela capacitação.

O sindicato enfrentou lutas judiciais referentes ao impedimento da paralisação, e os educadores que aderiram à greve da rede estadual em defesa da recuperação de seus direitos tiveram o ponto cortado em 16 dias. Educadores que estavam afastados por licença médica ou maternidade, mesmo que não estivessem nos movimentos grevistas, se pertencessem aos quadros das escolas que aderiram ao movimento do Sintego tiveram o salário cortado como os demais.

A maior incógnita é a reposição das aulas, já que o Estatuto do Magistério impede que isso aconteça, uma vez este é o mês de férias dos professores. “A informação da Seduc de que a reposição das aulas ocorrerá em julho é mentirosa. Não pode ocorrer neste mês. É mais uma mentira do secretário para reprimir os docentes, criando conflito dentro da comunidade escolar”, diz a nota de repúdio do movimento.

Outra denúncia recorrente feita pelo Sintego é a de que os educadores que fazem parte do movimento paredista estão enfrentando a perseguição da política das subsecretarias estaduais de Educação.

A presidente do sindicato, Ieda Leal, ressalta que os professores e funcionários administrativos da educação, não podem perder mais e acusa o secretário estadual Thiago Peixoto, de inviabilizar o diálogo com a categoria para o fim da greve.

Doença dos pobres?


Doenças negligenciadas são doenças que prevalecem em condições de pobreza e segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) afetam cerca de 1 bilhão de pessoas em 149 países do mundo, de forma silenciosa e propiciadora à manutenção nos quadros de desigualdade social.

O termo “doenças negligenciadas” nasceu em 1970, por um programa da Fundação Rockefeller e termo tem sido desde então utilizado para se referir a um conjunto de doenças causadas por agentes infecciosos e parasitários (vírus, bactérias, protozoários e helmintos) que são endêmicas em populações de baixa renda.

De acordo com o médico Roberson Guimarães, embora existam estudos para financiar pesquisas relacionadas a estas doenças, o conhecimento produzido não se reverte em avanços terapêuticos, como novos remédios, métodos de diagnósticos mais avançados e vacinas. “Essas doenças são típicas de população mais carente de países subdesenvolvidos, então a grande indústria famarmaceutica, não tem muito interesse em produzir produtos para atender esses doentes”, destaca.

Uma das metas do milênio da Organização das Nações Unidas (ONU) é o combate dessas enfermidades, que atingem principalmente a população marginalizada. No Brasil, existe a incidência de males como dengue, doença de Chagas, leishmaniose, malária, esquistossomose, hanseníase e tuberculose.

Em 2006, o governo lançou o Programa de Pesquisa e Desenvolvimento em Doenças Negligenciadas no Brasil, no âmbito da parceria do Ministério da Saúde com o Ministério da Ciência e Tecnologia e Secretaria de Vigilância em Saúde. Por meio de dados epidemiológicos, demográficos e o impacto da doença, foram definidas prioridades de atuação que compõem o programa em doenças negligenciadas.

Em fevereiro, o Ministério da Saúde lançou a liberação de R$ 25,9 milhões para ações de controle das doenças negligenciadas, para os 26 estados brasileiros e o Distrito Federal, com foco em ações de vigilância epidemiológica.

Para Roberson Guimarães, essa verba parece muito alta, mas não é, pois, quando se faz a distribuição regional, Goiás, por exemplo, receberá R$ 1 milhão para o estado inteiro atingindo principalmente as ações de vigilância e a distribuição foi maior para estados onde as situações de endemia são mais graves.


Saiba mais sobre as doenças negligenciadas:

DENGUE: A Dengue e a Febre Hemorrágica da Dengue (FHD) são causadas por quatro sorotipos do vírus estreitamente relacionados com a família Flavivirus. A infecção é mais comum nas Américas e Ásia e em outras regiões tropicais e é transmitida ao homem pela picada de mosquitos infectados. Os sintomas incluem dores de cabeça, febre, dores nas juntas e músculos, e uma erupção cutânea característica.
CHAGAS: A doença de Chagas é encontrada apenas na América Latina. Foi nomeada por Carlos Chagas, um médico brasileiro quem primeiro descreveu a doença em 1909. Ele também descreveu o ciclo de vida do parasita, identificou os insetos que transmitem o parasita, os mamíferos de pequeno porte que atuam como hospedeiros e os meios sugeridos para auxiliar na prevenção e controle.

LEISHMANIOSE: Doença causada por protozoários parasitas do gênero Leishmania transmitida por meio da picada de certas espécies de flebotomíneos. Os sintomas da infecção incluem feridas na pele, febre, anemia e danos ao fígado e baço. A forma mais grave da doença, a leishmaniose visceral, ocorre quando os parasitas migram para os órgãos vitais do corpo. Atualmente, cerca de 90% dos casos de leishmaniose na América Latina ocorrem no Brasil.

MALÁRIA: A malária é considerada uma das mais graves infecções parasitárias da humanidade. Presente em 110 países do mundo, a malária ameaça metade da população mundial. A cada ano, 350-500 mil casos ocorrem em todo o mundo, principalmente no continente africano. Causada pelo parasita Plasmodium, a malária é transmitida de pessoa a pessoa através da picada de mosquitos Anopheles. Há quatro espécies de plasmodium, sendo que o P. falciparum é o mais agressivo.

ESQUISTOSOMOSE: A esquistossomose, também conhecida como bilharzíase ou "febre do caramujo", é uma doença parasitária, transmitida por caramujos infectados com uma das cinco variedades do parasita Schistosoma. A infecção tem ampla distribuição no hemisfério sul, com uma relativa baixa taxa de mortalidade, e alta morbidade, causando doença grave, debilitando milhões de pessoas ao redor do mundo.

TUBERCULOSE: Doença infecto-contagiosa causada por uma bactéria que afeta principalmente os pulmões, mas, também pode ocorrer em outros órgãos do corpo, como ossos, rins e meninges (membranas que envolvem o cérebro). É causado pelo Mycobacterium tuberculosis ou Bacilo de Koch (BK). Outras espécies de micobactérias também podem causar a tuberculose. Aproximadamente um terço da população do mundo está infectada com o bacilo da tuberculose. A tuberculose é a principal causa de morte de pessoas que estão infectadas pelo HIV, devido ao enfraquecimento das defesas imunológicas.

HANSENÍASE: Doença infecciosa causada pelo bacilo Mycobacterium leprae que afeta os nervos e a pele e que provoca danos severos. O nome hanseníase é devido ao descobridor do microrganismo causador da doença Gerhard Hansen. É transmitida por gotículas de saliva. O bacilo é eliminado pelo aparelho respiratório da pessoa doente na forma de aerossol durante o ato de falar, espirrar ou tossir. É endêmica em certos países do hemisfério sul, em particular na Ásia. O Brasil inclui-se entre os países de alta endemicidade de hanseníase no mundo.

Mulheres marcadas



A auxiliar de serviços gerais, Isailda Rezende de Carvalho comemoraria nesta quinta-feira (8), o 46° dia das mulheres. Receberia o abraço dos filhos, amigos e do companheiro, Sandoval de Jesus, mas foi impedida.


O dia 26 de fevereiro parecia mais um domingo normal na rotina de Isailda, exceto por mais uma das brigas com o companheiro, que após passar o dia no bar, a executou de forma cruel, brutal e covarde. Ela morreu de forma instantânea, por consequência das dezenas golpes de faca que perfuraram todo o corpo.


Isailda não é a única, dados da Central de Atendimento à Mulher da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) de 2011 registraram que foram realizados em 2009, 401.729 atendimentos denunciando agressões contra a mulher. Em 2010 este número foi 734.416 atendimentos, aumento de 82,8%. De abril de 2006 a dezembro de 2010 foram 1.658.294 atendimentos.


Dos 734.416 registros ocorridos em 2010, 108.026 dizem respeito a relatos de violência, 63.831 referem-se à violência física, 27.433 à violência psicológica, 12.605 à violência moral, 1.839 à violência patrimonial, 2.318 à violência sexual, 447 a cárcere privado, e 73 a tráfico de mulheres. De acordo com os atendimentos, 58,1% das vítimas são agredidas diariamente, 38% relatam sofrer violência desde o início da relação, 71,5% das vítimas moram com o agressor, 65,5% convivem com seu algoz há mais de dez anos, e 51,3% dos casos, a mulher diz correr risco de morte, como no caso de Isailda. Os dados relatam ainda que os filhos presenciam ou sofrem violência junto com a mãe em 84,2% das situações.


Em briga de marido e mulher...


Casos como o da auxiliar de serviços gerais, podem ser explicados através de uma pesquisa inédita sobre violência contra a mulher promovida pelo Instituto Patrícia Galvão revelando que, embora a violência seja abominada por cerca de 90% da população, o velho ditado “em briga de marido e mulher não se mete a colher” ainda tem boa aceitação de 66%.


Porém, uma decisão tomada no dia 9 de fevereiro, pelo Supremo Tribunal Federal (STF) torna mais complicada a situação dos homens que agridem as mulheres no ambiente doméstico. Ao analisarem a Lei Maria da Penha, os ministros do STF concluíram que a abertura de ação criminal contra o responsável pela lesão corporal não está mais condicionada a uma representação da vítima. Ou seja, o processo poderá ser aberto mesmo se a mulher não prestar queixa.


Para a titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM), Aline Vilela, esta decisão do STF, vem quebrar um tabu. “Nosso país é de uma cultura patriarcal e várias pessoas querem reprivatizar a violência doméstica, afirmam que nem o Judiciário, a polícia, ninguém pode entrar nesse mérito, pois este é um âmbito do casal em quatro paredes. Essa é uma cultura persistente por longos anos, e que 9 de fevereiro foi um marco, e o STF disse totalmente ao contrário, em briga de marido e mulher, o Estado vai meter a colher, sim”, enfatiza.


A delegada explica que antigamente os crimes de lesão corporal leve dependiam de uma representação da vítima, ou seja, ela precisava ir à delegacia, noticiava o fato em um boletim de ocorrência e assinava um termo de representação, que é a manifestação de vontade para que o agressor fosse processado. Atualmente não é mais preciso a representação da vítima, e se houver a notícia de que alguma mulher está lesionada, o Estado pode agir, através de uma denúncia do Ministério Público (MP), além de que na fase judicial, a agredida não terá o poder de retirar a representação assinada anteriormente.


Marcadas pelo passado


Nair (84) é mãe de quatro filhos e durante 15 anos sofreu calada toda espécie de agressões por parte do marido. Em meados da década de 50 e 60, uma época onde o divórcio era considerado abandono do lar (somente em 1977, o Estado reconheceu essa legitimidade), ela respirava violência. Era xingada por toda espécie de nomes de baixo calão, chegou ser ameaçada com arma de fogo, porém, o mais comum era apanhar com o sapato de salto, aquele que usava nos eventos da “sociedade”, para tornar-se uma mulher elegante e dona de casa realizada.


As agressões eram cada dia piores, levando o juiz e o bispo da cidade onde morava, reconhecerem a gravidade da situação, dando-lhe uma carta de legitimação da separação do casal. Mesmo com esse reconhecimento de liberdade e do divórcio oficial anos depois, até a morte do ex-marido em 2009, Nair preferiu não retirar o sobrenome do agressor de seus documentos de identidade.Atualmente, a mentalidade da população tem mudado.


De acordo com uma pesquisa realizada pelo Ibope, a idéia de que a mulher deve aguentar agressões em nome da estabilidade familiar é claramente rejeitada pelos entrevistados (86%), assim como o chavão em relação ao agressor: “ele bate, mas ruim com ele, pior sem ele”, que é rejeitado por 80% dos entrevistados.


Com relação ao chavão conformista “ele bate, mas ruim com ele, pior sem ele”, há diferenças significativas e culturalmente relevantes: as mulheres (83%) tendem a rejeitar mais do que os homens (76%); os mais jovens (83%), mais do que os mais velhos (68%).


O direito de reviver


Há duas semanas, uma mulher se recuperava de um procedimento cirúrgico que retirou o seu útero, os filhos estavam na escola e ela estava sozinha em casa. O ex-marido aproveitou a ocasião de fragilidade, entrou na residência sedou a ex-companheira, e de forma cruel, a violentou, arrebentado todos os pontos da barriga.


De acordo com a delegada Aline Vilela, episódios como esse são recorrentes em Anápolis, além dos casos de tentativa de homicídio, lesão corporal grave, como substâncias jogadas nos olhos com intuito de cegar, porém, os casos preponderantes são os crimes contra a honra e ameaça.


Mulheres que têm sua dignidade violada precisam de auxílio para retomar a vida. Trabalhos realizados, como os da ONG, “Radassa” e ações da Diretoria de Políticas Públicas para as Mulheres, transformam realidades pisoteadas, dando-lhes um novo sentido.


De acordo com a diretoria de Políticas Públicas para as Mulheres, Erondina de Moraes, o trabalho realizado, vem atender ao clamor da mulher violentada e agredida, que não tinha um lugar onde reclamar. “Na delegacia ela registra a ocorrência, ela vê seu algoz ser processado ou não, mas não tinha um respaldo pra isso. No nosso espaço, ela tem a garantia de atendimento social, jurídico, apoio psicológico, além de ter um abrigo para si e seus filhos”, destaca.


Por anos, a luta contra a violência doméstica foi considerada impossível e as mulheres condenadas, a viver sob a escravidão de um algoz. Porém, como em todo processo histórico, a bandeira do respeito e igualdade vem sendo erguida.


As mulheres cada vez mais se conscientizam que violência não é sinal de amor excessivo e não se contentam em viver mediante à tristeza e o abandono. Elas vivem o poema de Adélia Prado, “minha tristeza não tem pedigree, mas a vontade de alegria tem uma raiz que vai até o meu mil avô”.