Apenas médico?


A medicina chinesa é a prática de um conjunto de ações milenares, fundamentadas numa estrutura teórica sistemática e abrangente, de natureza filosófica, regida por leis governadas pelos ciclos da natureza.

Essa visão e aplicação da medicina é totalmente oposta dos métodos de diagnóstico e profilaxia (a aplicação de meios tendentes a evitar as doenças ou a sua propagação), ocidentais.

A acupuntura está dentro dessa perspectiva, da medicina chinesa. Desde 1979, Em 1979, a Organização Mundial de Saúde (OMS) comprovou a eficácia dessa prática e editou uma lista com 41 doenças que apresentaram excelentes resultados com o tratamento.

Ela é considerada um remédio muito eficaz para aliviar a dor e possui muitos benefícios. Ao introduzir agulhas na pele, o corpo gera endorfinas que contribuem a apaziguar a dor. A melhoria costuma notar-se depois da primeira sessão. A técnica é indolor e só se sente uma ligeira cócega na região onde as agulhas são introduzidas.
No Brasil, desde 2001 se arrasta uma polêmica denominada “Lei do Ato Médico”, que define quais são as atividades exclusivas dos médicos que só podem ser realizadas por eles, ou com sua autorização. A proposta que está em análise não faz referência explícita à acupuntura, porém, a proibição que era é indireta recebeu proporções diretas.

Na última semana, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região decidiu que a acupuntura somente poderá ser exercida por médicos, pois o Conselho Federal de Medicina argumenta que somente médicos podem fazer diagnóstico e tratamento.

De acordo com o presidente do Conselho Regional de Medicina do estado de Goiás, Salomão Rodrigues, essa decisão foi o reconhecimento do poder Judiciário, que o diagnóstico de doenças e a prescrição terapêutica para é um ato privativo do médico. “A acupuntura é amplamente praticada no ocidente somente por médicos, apenas no Brasil que isso não ocorre, aqui, até mesmo advogados, não há limitação”, defende.
Ele ainda destaca que a acupuntura é um método terapêutico e só pode ser aplicado quando se tem um diagnóstico de uma doença, isso é privativo do médico e outros profissionais da saúde não podem fazer.

Já o fisioterapeuta e professor de acupuntura, Raphael Lobo, que há quatro anos trabalha com técnicas da medicina chinesa discorda da decisão e dos argumentos utilizados pelo Conselho de Medicina. “A única diferença entre os profissionais é a formação por áreas, no Brasil todos frequentam a mesma sala de especialização, com a mesma carga horária e conteúdo, já que nas universidades não existe a matéria exclusiva de acupuntura”, explica.

Ele também revela que os conceitos medicinais orientais e ocidentais são totalmente contrários. “Independente da graduação da pessoa, uma coisa é totalmente desvinculada da outra, a medicina tradicional chinesa tem um embasamento filosófico e em outros princípios que não são os nossos. O médico tem a capacidade de dar um diagnóstico clínico, diferente do fisioterapeuta que dá um diagnóstico cinético- funcional, que é diferente do acupunturista, que diagnostica baseado nos canais e funções energéticas do indivíduo, portanto são coisas desvinculadas”, defende.

Raphael disse que mesmo com a decisão judicial, os profissionais de outras áreas da saúde continuarão com as aplicações da acupuntura, pois ainda existe o recurso em mais duas instâncias, o que ainda deve demorar cerca de 20 anos para a conclusão final dessa polêmica.

Proteja-se do estelionato


Em novembro de 2011, um cliente em potencial comprou em cheque, R$ oito mil em cervejas, de uma rede de supermercados, em Anápolis. Muito simpático com as atendentes, ele as cativou com sua boa educação e suas histórias de uma vida mirabolante.

Outro dia ele voltou, comprou mais de R$ três mil, no mesmo item, contou mais histórias e fez mais gente sorrir, porém, quando o setor financeiro do supermercado depositou o cheque foi surpreendido com um rombo de quase R$ 12 mil. O cheque era roubado e o tal cliente em potencial, era na verdade um estelionatário que aplicava golpes em todo estado.

Segundo o Código Penal brasileiro o estelionato é enquadrado como crime econômico (Título II, Capítulo VI, Artigo 171), sendo definido como obter para si ou para outro, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, astúcia ou qualquer outro meio fraudulento.

Parece um crime distante, algo Hollywoodiano, mas não é bem assim. De acordo com o titular do 6ºDP, delegado Manoel Vanderic, o estelionato é o campeão de ocorrências, não só em Anápolis, mas em todo o estado.

O delegado afirma que a maior incidência de estelionato acontece durante as transações comerciais, principalmente na utilização de cheques, roubados, fraudados ou sem fundo. “Os estelionatários, se utilizam da boa fé e da ingenuidade das pessoas para cometerem esses golpes e fraudes”, explica.

Como se proteger

Jerônimo (nome fictício) queria trocar o carro por um modelo mais novo. Ele encontrou um comprador interessando no veículo, que fez o pagamento em cheque. Empolgado com essa possibilidade e o carisma do comprador, ele efetuou a transferência do automóvel, antes de depositar o cheque. Porém ao tentar a quantia estabelecida, no banco foi informado que se tratava de um cheque roubado.

O delegado Manoel Vanderic diz que casos como o de Jerônimo podem ser evitados. “A polícia orienta que as pessoas antes de concluírem qualquer tipo de negócio busquem referência sobre o titular do cheque e as pessoas que negociam com amigos é preciso fazer o mesmo procedimento, hoje em dia tem que desconfiar até mesmo do irmão”, destaca.

Ele também alerta sobre a possibilidade de dinheiro fácil que é oferecida às pessoas e muitas vezes pode se tratar de um golpe. “Não existe dinheiro fácil, existe um padrão que se repete no estelionato, eles prometem dinheiro fácil a fim de lucrarem uma quantia a mais nos seus negócios, mais uma vez ressalto que é preciso pesquisar e buscar referências, antes de concluir qualquer tipo de transação comercial”, alerta.

Para maior segurança do vendedor, Vanderic ressalta que muitas vezes nas vendas com cheque, o estelionatário pode se utilizar de documentos falsos. De acordo com ele, antes de fechar um negócio é necessário fazer uma pesquisa nos órgãos expedidores e na Polícia Civi

Quem nunca sofreu por amor?


“Quando você foi embora fez-se noite em meu viver
Forte eu sou mas não tem jeito, hoje eu tenho que chorar
Minha casa não é minha, e nem é meu este lugar
Estou só e não resisto, muito tenho prá falar” (Milton Nascimento- Travessia )


Eles se conheceram na escola, não era a intenção, mas se apaixonaram e resolveram se aventurar no mundo do amor. Ela foi para outro estado fazer medicina e ele ficou realizando o sonho de cursar jornalismo. O sentimento foi crescendo, as famílias ficaram amigas, o casal viajou várias vezes nas férias, resistiram à distância, amadureceram juntos, em fim, viveram momentos inesquecíveis.

Mas um dia as coisas pareceram não ter mais o sentido de antes. Perceberam que viviam metas diferentes, não estavam dispostos a mudar mais um pelo outro, queriam viver a vida de jovens, conviver com os amigos, sair sem ter hora pra voltar. Depois de refletir a por quase um ano, ele decidiu colocar um ponto final no relacionamento de três anos.

Ela chorou, ele também. Ele guarda há seis meses na estante um porta-retrato, com a foto dos dois. Já teve oportunidade de começar outros relacionamentos, mas alega que sempre procura as qualidades da ex, mesmo não querendo reatar. Ela ainda não conseguiu esquecer, mas está conhecendo outras pessoas.

Assim como esses dois jovens, quase todas as pessoas da sociedade ocidental (onde o casamento é uma escolha pessoal), já viveram o drama de um relacionamento rompido. A dor sempre estará lá, porém, a forma de vivê-la que encontra diversas formas de se manifestar.

O psicólogo Renato Souza explica que a dor advém do sentimento de perda de alguém e que as reações diversas acontecem de acordo com o nível dos relacionamentos e sentimentos. “Tudo depende do nível de sentimento que havia. A ruptura de alguém que amava e estava há muito tempo junto é bem diferente de outro que só viveu uma paixão momentânea, a maior dor das pessoas é de perder aquilo que o outro lhe oferecia de bom, o que na psicologia chamamos de reforçadores”, destaca.

Renato afirma que o sentimento é algo que não se escolhe, mas é preciso trabalhar a forma como é expresso, ele também ressalta que a angústia tanto de quem deixa, quanto de quem é deixado, advém das mudanças impostas por esta situação. “Toda mudança gera angústia. Quando existe uma mudança de casa, emprego ou cidade a ansiedade e angústia sempre aparecem, pois, algo diferente está por acontecer, assim ocorre com o fim dos relacionamentos, estar solteiro, se envolver com outra pessoa, ser deixado por alguém é uma nova situação, que gera medo do desconhecido”, pondera.

“Eu queria manter cada corte em carne viva
A minha dor em eterna exposição e sair nos jornais e na televisão
Só prá te enlouquecer até você me pedir perdão
Eu já ouvi 50 receitas prá te esquecer
Que só me lembram que nada vai resolver
Porque tudo, tudo me traz você
E eu já não tenho prá onde correr” (Leoni – 50 receitas)


Nádia começou namorar Fábio aos 18. Juntos há quatro anos, eles pensavam em casamento e já estavam com a data do noivado marcada para o aniversário dela. Estavam olhando apartamentos e acertando detalhes. Nádia sempre incentivou o namorado a estudar e ingressar em um curso superior, porém, quando isso aconteceu, Fábio conheceu outra pessoa e somando-se a um dia de desavença, que ela pediu um tempo, ele aproveitou o gancho para terminar o relacionamento definitivamente.

Passaram-se dois anos, e parece que a ferida continua aberta. Tudo lembra Fábio, as músicas, os restaurantes, as ruas, as datas comemorativas e mesmo que às vezes engate algum relacionamento, ela confessa que de noite chora de saudade do amor antigo.

Segundo Renato Souza, o fator de maior dificuldade para se superar uma separação é deixar pra trás as lembranças e a sensação de completude que o outro gerava. “Em muitos relacionamentos as pessoas ficam tão próximas e dependem tanto umas das outras, parece que elas perdem a capacidade de viverem sozinhas, a sensação é de ter sido roubada uma parte de si”, acredita.

Ele alerta que para esquecer alguém, o primeiro passo é partir do um desejo pessoal de cicatrizar a ferida aberta. “Mesmo doendo, mesmo com todo sofrimento é preciso tomar a decisão de superar, quanto maior o tempo que se demora para dar esse primeiro passo, mais tempo levará para a recuperação. Quando alguém cultiva muito tempo esse sofrimento, talvez não queira acreditar que chegou ao fim, pois alimenta esse sentimento e não aceita essa mudança”, alerta.

De acordo com Souza, um bom começo para esse processo de retomada da vida é fugir dos estímulos que lembrem o ex, pois, quanto menos houver a exposição desses elementos, mais rápido pode-se esquecer, ou seja, deixar de ouvir a música que marcou o relacionamento, não freqüentar locais onde possa haver um encontro, ou simplesmente parar de fuçar no facebook em busca de notícias, podem ajudar na superação.

Mas como ninguém, é um computador, programado para agir sem sentimentos, a recaída é um fator normal nesse processo e contar com o apoio dos amigos e familiares, sempre é uma boa idéia. Eles vão ouvir os lamentos, as mágoas e incentivar a seguir por um caminho que muitas vezes é obscurecido por tantas experiências negativas.


10 mandamentos para quem quer retomar a vida após o fim de um relacionamento

A jornalista Fabrícia Hamu, é formada pela UFG e mestre em Relações Internacionais pela Université de Liège (Bélgica). Todas as semanas ela escreve uma coluna voltada para as mulheres no site da rede Record “A Redação”. Hoje, ela dá dicas a quem terminou um relacionamento e precisa se reerguer.
Dez dicas para recomeçar com o pé direito:

1- Quem acabou foi o relacionamento amoroso, não a sua vida. É claro que o lado afetivo conta muito, mas a vida de uma pessoa não se resume a ele. Lembre-se que para ter equilíbrio é importante investir no lado profissional, familiar e nos seus interesses pessoais;
2- Evite reler antigos e-mails, bilhetes, cartões, rever vídeos, filmes, fuçar nas redes sociais do outro, enfim, resista à tentação de remexer no passado. A ruptura, por si só, já é dolorosa. Dispense os requintes de crueldade;
3- Muitas pessoas tendem a se fechar quando estão num relacionamento amoroso, esquecendo dos amigos e até dos parentes. Se esse for o seu caso, não tenha vergonha e reative os contatos antigos. Procure essas pessoas, peça desculpas pela ausência e mostre que as quer de volta para o seu convívio;
4- Não generalize. Nem todo mundo trai, nem todo mundo mente compulsivamente, nem todo mundo é indeciso. As pessoas são diferentes e é justamente aí que está a graça da coisa. Abra-se para o novo e se surpreenda com a vida;
5- Invista em algum hobby ou curso do seu interesse. Pode ser um esporte, um curso de língua estrangeira, uma aula de dança, ou qualquer outra atividade que você gostar. É uma ótima oportunidade de fazer novos contatos e espairecer;
6- Viaje. Sempre e, de preferência, para destinos ainda não conhecidos. É uma ótima maneira de conhecer pessoas e culturas diferentes, expandir os horizontes e arejar as ideias;
7- Mude a rotina. Vá a bares, restaurantes, pubs e shows diferentes do que costumava frequentar com o parceiro. Permita-se vivenciar novas opções de diversão;
8- Reforce sua autoestima. Cuide da saúde, melhore sua aparência, cubra-se de elogios e de ações que possam incentivá-lo a se sentir bem e seguro. Não se esqueça que as pessoas o veem como você se vê;
9- Invista em autoconhecimento. Se você não tem claro o que espera de um parceiro e de um relacionamento, se não sabe ao certo o que lhe faz alegre nem triste, procure ajuda psicológica. Você é o único responsável pela sua felicidade;
10- Tudo começa na mente. Por isso, espante os pensamentos negativos e obsessivos. Pensamentos positivos geram sentimentos agradáveis e construtivos

O que a noite da Avenida JK não revela


Em novembro de 2011, um adolescente trouxe a grave denúncia de que em Anápolis existe uma suposta rede de tráfico de travestis advindos do Pará e Maranhão, muitos deles sem ao menos terem completado a maior idade. O menor indicou que havia sido aliciado em sua cidade natal no Pará, com a promessa de remodelar o corpo, através da aplicação de silicone e megahair (procedimento para alongar os cabelos), entre outros atributos.

Porém, ao chegar a Anápolis ele alegou que se deparou com uma realidade totalmente adversa da prometida, adquirindo dívidas que iam desde a passagem à hospedagem em uma casa que abrigava outros travestis.
Em novembro, ele conseguiu fugir e o caso vem sendo investigado por autoridades no Pará e Goiás.

Tal acontecimento levou na tarde da última quarta-feira (4), em uma ação conjunta entre o Grupo Especial de Repressão a Narcóticos (Genarc), Delegacia de Polícia de Apuração de Atos Infracionais (Depai) e Delegacia de Proteção à Criança e Adolescente (DPCA) à prisão de Josiel Paulista Vieira, conhecido como Érica Cafetina e outros 15 travestis foram conduzidos à delegacia.

De acordo com a delegada titular do Depai-Dpca, Kênia Batista Dutra, Josiel é apontado como proprietário da casa que abriga os travestis, supostamente aliciados por ele. “Está comprovado que ele mantém a casa para abrigar os rapazes travestis, com intuito de estimulá-los à prática sexual a fim de obter vantagens com os programas”, destaca.

“Faltou maior apoio das autoridades de Goiás”, destaca delegada responsável pelo caso no Pará

A delegada Christiane Lobato, titular da Divisão de Atendimento ao Adolescente (Data), em Belém no Pará, falou com exclusividade à Folha 670 revelando que desde novembro comunicou a autoridades como Ministério Público, Judiciário, Polícias Federal e Civil de Goiás sobre o caso. “Existe desde novembro a ocorrência de um adolescente tido como desaparecido, que conseguiu fugir, eu pedi apoio em Goiás, mas parece que não houve esforço, nós já tínhamos enviado desde aquela época, o endereço e o nome profissional de Josiel”, enfatiza.

Lobato ressalta que o possível tráfico de pessoas para utilizá-los como travestis em Anápolis é uma situação antiga, assim como o funcionamento da casa, localizada no Bairro Monte Sinai, nas proximidades da Base Aérea. “Não é possível que ninguém nunca tenha visto esse local e ainda mais com essa situação”, desacredita.

A delegada afirma que até hoje não havia um mandado de prisão contra Vieira, no Pará, por falta de materialidade, porém com a chegada do processo decorrente da prisão em Anápolis, a Data também representará por prisão preventiva.


Em busca do corpo, mas sem identidade


Segundo fontes ligadas ao Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico e Pessoas (Netp), em Goiás, travestis adolescentes e adultas são convidadas a “trabalhar”, em Anápolis com a promessa de receberem tratamentos estéticos, como silicone nos seios e glúteos, megahair e aplicação hormonal, que conseqüentemente lhes modelarão, trazendo características femininas e portanto, aumentam os lucros nos programas.

Christiane Lobato afirma que esses procedimentos custam caro para o travesti, uma vez que eles adquirem uma dívida duas vezes maior que o preço cobrado na aplicação, porém, o maior risco está na qualidade e procedência dos materiais estéticos principalmente o silicone.

De acordo com a delegada, na maioria das vezes é aplicado silicone industrial, usado em carros e lubrificação das peças de avião, podendo causar reações alérgicas, fibroses, necrose deformações severas no corpo e dificuldades para andar, além de mortes por infecção generalizada.

Dentro desta perspectiva, na casa onde foi feita a prisão de Josiel foram encontradas agulhas, que de acordo com os travestis, eram utilizadas para aplicação de silicone industrial.

Fatos como esse, ainda são denunciados por Lobato. “Mesmo com as consequências do uso desse produto, os travestis são obrigados a irem para a rua, elas são seduzidas pela mudança de corpo, mas a realidade é outra e se ao implantarem silicone industrial ficarem doentes, mesmo assim precisam trabalhar”, enfoca.

Senzalas invisíveis do século XXI

As autoridades em defesa das pessoas traficadas são unânimes, que o tráfico de mulheres (como já mostramos na edição 10) e travestis possui as mesmas características desde a abordagem, até nas práticas que mantém o explorado ligado ao explorador.

Essas mesmas autoridades revelam que as quadrilhas são perigosas, violentas, além de estarem livres na sociedade e envolvidas infimamente com outras contravenções como tráfico de drogas, armas, menores e mulheres, o que lhes leva a crer que possuem proteção de indivíduos influentes.
A delegada Christiane Lobato revela
que existe uma estrutura de vigilância diária e um esquema de escravidão por dívida, ou seja, ao chegar, o aliciado descobre que precisa ressarcir o cafetão, na passagem, despesas de moradia, alimentação, procedimentos estéticos e porcentagem dos programas, vivendo em regime de escravidão até quitar suas dívidas.

E da mesma forma como ocorre no tráfico de mulheres, os aliciadores de base, ou seja, aqueles que abordam os travestis com as propostas de mudanças de vida, corpo e condição monetária, são indivíduos de seu convívio. “As vítimas nunca vão assumir sua condição e denunciar, pois os aliciadores são pessoas que de alguma forma possuem algum vínculo, sabem onde elas moram e fazem ameaças”, explica a delegada.

Imputações

Josiel Paulista Vieira, responderá pelos crimes inafiançáveis de favorecimento à prostituição e rufianismo, que consiste na prática do agente tirar proveito da prostituição alheia, participando diretamente de seus lucros ou fazendo-se sustentar por qualquer pessoa, homem ou mulher, que exerça a prostituição, podendo ser condenado por até cinco anos de reclusão.

Os 15 travestis apreendidos serão ouvidos, terão antecedentes criminais pesquisados e posteriormente liberados. Embora no momento da abordagem não tenha sido encontrado nenhum menor, o próprio Vieira, confessou que em outras ocasiões a casa já recebeu as possíveis vítimas.

De acordo com a delegada Kênia Batista Dutra, a investigação que acontece no Pará, por tráfico de seres humanos pode influenciar em outras acusações em Anápolis, e que ela aguarda a documentação de Belém.

ONU alerta que 2,4 milhões de pessoas no mundo são vítimas de tráfico humano

Na última terça-feira (3), o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (Unodc) informou que cerca de 2,4 milhões de pessoas no mundo foram vítimas de tráfico de seres humanos pelo menos uma vez.

O diretor executivo do Unodc, Yuri Fedotov, disse que em 17% dos casos as pessoas são submetidas a trabalhos forçados. De acordo com ele, uma em cada 100 vítimas do tráfico é resgatada. Ele apelou à comunidade internacional para que sejam tomadas medidas a fim de conter o avanço do tráfico de pessoas.

Página doce

























Feliz Páscoa!!!

A menina do vestido azul


“Enquanto passa preguiçosamente o tempo com sua irmã, Alice vê o Coelho Branco de colete, carregando um relógio de bolso. Supreendida segue-o até a toca do coelho e cai nele, revelando-lhe a sua longa profundidade como um poço e as suas paredes repletas de prateleiras cheias de objetos estranhos, quadros e de livros. Após uma aterisagem segura num átrio, Alice vê uma pequena mesa de vidro maciço e em cima dela havia uma pequena chave dourada. À procura de fechaduras correspondentes, descobre, atrás de uma cortina, a pequena porta e através desta Alice vê maravilhada um lindo jardim. No entanto, a porta é muito pequena para ela conseguir entrar. Mas devido a uma pequena garrafa com uma etiqueta BEBA-ME, Alice diminui de tamanho ao bebê-la”

Alice no País das Maravilhas, a obra mais célebre do inglês Lewis Caroll conta a história repleta de fantasia de uma menina que cai numa toca de coelho que a transporta para um lugar fantástico e mágico.

Nicole, uma Anapolina de seis anos, não conhece Alice, tampouco viveu em sua época, mas as duas têm em comum além da infância, a vida num mundo incompreensível para a maioria das pessoas. Ela é filha da jornalista Rita Maura Boarin, e desde que a menina completou um ano percebeu que algo estava diferente do desenvolvimento natural das crianças daquela idade.

Desde então, a pequena Nicole entrou na toca do coelho, e depois de uma peregrinação de dois anos, com diagnósticos imprecisos, dúvidas e angústias para tentar entender os motivos que levaram a criança a entrar numa dimensão tão diferente: o mundo do autismo.

Segundo, o Diagnóstico Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM), autismo é um tipo transtorno global do desenvolvimento, sem cura, que se manifesta em crianças até os três anos de idade e compromete aspectos físicos, psicológicos e sociais. Trata-se de um desenvolvimento acentuadamente comprometido em termos de interação social e comunicação, além de um repertório comportamental muito restrito de atividades e interesses.

De acordo com o médico psiquiatra César de Moraes, indicadores que o processo de desenvolvimento da criança não vai bem podem ocorrer antes dos seis meses de idade. Crianças que choram demais ou são vistas como muito quietas pelos pais, crianças que têm pouco contato visual, não mantêm posição antecipatória ou não prestam atenção aos eventos familiares principais podem estar apresentando sintomas iniciais da síndrome autista. As alterações no ritmo do desenvolvimento da criança também costumam ocorrer precocemente.

Na maioria das vezes o autismo se manifesta no sexo masculino, fato que de acordo com o mestre em psicologia clínica, Artur Vandré, a ciência desconhece. “Uma hipótese vem de pesquisas feitas no Canadá, no Hospital for Sick Children, em Toronto. Os estudiosos identificaram um gene que pode explicar a maior incidência do autismo entre os meninos. A hipótese é que eles apresentam uma alteração de DNA no cromossomo X.

Foram pesquisados os genes de dois mil indivíduos com autismo e comparados com indivíduos sem a síndrome. Um por cento dos meninos com autismo tinha mutações no gene PTCHD1, encontrado no cromossomo X. As irmãs desses meninos, mesmo com a mesma mutação, não foram afetadas. Isso é possível pela razão de que enquanto os meninos carregam o X das mães e o Y dos pais, naturalmente, as mulheres têm dois cromossomos X. Nesse sentido é como se o cromossomo sadio anulasse o “doente”. Mesmo assim as pesquisas vão continuar, pois não há nada concluído necessariamente”, explica.
Por conta da síndrome se manifestar majoritariamente em pessoas do sexo masculino, fora instituída a cor azul, como símbolo da causa de apoio à inclusão e luta pelos direitos dos autistas.

Direitos estes que são cerceados por falta de informação e desamparo de uma constituição pertinente às pessoas portadoras dessa deficiência, pois, ainda tramita no Senado um projeto de Lei que prevê a inclusão, como proteção contra exploração e acesso a serviços de saúde, à moradia e à assistência social, estendendo o direito à jornada especial ao servidor público que tenha sob seus cuidados cônjuge, filho ou dependente autista, além da possibilidade de ser incluído no sistema regular de ensino.

Ou seja, atualmente, os cerca de dois milhões de autistas no Brasil, não têm os mesmos direitos atribuídos às pessoas com deficiência como, por exemplo, cota de vagas de emprego em empresas com mais de cem funcionários. “Em alguns lugares do país, como Anápolis, o autismo não é tido como deficiência, mas é preciso que as pessoas saibam que eles possuem múltiplos problemas e precisam de um tratamento específico e intensivo, para que possam se desenvolver, com intuito de depois não ficarem pendurados no SUS”, destaca Rita Boarin.

Inclusão e preconceito

Embora, eles não possuam nenhuma característica física que remeta à limitação, como no caso da Síndrome de Down, os autistas têm algumas limitações que muitas vezes são incompreensíveis a um interlocutor desavisado da deficiência dessa criança.
Um autista é muito sensível à luz e ao som, não conseguindo absorver todas as informações que lhe são oferecidas, podendo gerar uma crise, muitas vezes em ambiente público. Rita relata que ao notar uma situação tensa para Nicole, logo lhe oferece a chupeta, pois esta lhe tira o stress e que muitas pessoas não têm receio de criticar o ato pela idade da menina, ou quando uma crise afeta a criança em público, os olhares e comentários maldosos censuram mãe e filha, por julgarem se tratar de uma birra por um mimo qualquer.

A situação se agrava quando o assunto é educação. As escolas de ensino regular são obrigadas a acolher crianças com essa limitação, mas muitas não têm preparo adequado. No caso de Nicole, ela precisou passar por três escolas até se adaptar.
A primeira escola pertencia a uma entidade particular e o maior problema foi a troca repetitiva de professores, pois, o autista, não suporta mudanças repentinas e seu mundo determina uma rotina pré estabelecida.

A segunda escola foi um projeto da rede estadual, em uma classe unicamente de autistas, mas a mãe foi aconselhada a não prosseguir com esse ensino, para que Nicole pudesse se adaptar a um convívio em sociedade e não adquirisse mais maneirismos, ou seja, manias típicas dessa síndrome, como andar na ponta dos pés, movimentos involuntários com as mãos, dentre outros.

A terceira experiência acontece em um CMEI e têm dado certo. Um monitor acompanha o desenvolvimento escolar de Nicole junto com a classe e de acordo com Rita, têm auxiliado para uma inclusão efetiva. Ela conta que ao chegar esses dias na entrada da escola, uma coleguinha abraçou Nicole e a levou de mãos dadas para a classe. “Para uma criança que não brincava e tinha uma grande dificuldade de socialização, atos como esse são uma grande vitória”, comemora.

Um mundo e seus repertórios

O psiquiatra César de Moraes aponta que crianças com autismo mostram, em geral, têm uma melhor performance nas tarefas não verbais e visuoespaciais do que nas tarefas verbais. “Sintomas comportamentais associados à síndrome incluem hiperatividade, curto tempo de atenção, impulsividade, comportamento agressivo, acessos de auto-agressividade e agitação psicomotora”, destaca.

Algumas pessoas com autismo têm respostas extremas aos estímulos sensoriais, tais como hipersensibilidade a luz, som, toque, e fascinação por certos estímulos auditivos ou visuais. Distúrbios do sono e da alimentação também são comuns nessas pessoas, além de medo excessivo em situações corriqueiras ou perda do medo em situações de risco.

Os indivíduos autistas apresentam uma insistência na ‘mesmice’, que se apresenta pelo seu comportamento inflexível e suas rotinas e rituais não funcionais, por exemplo, Rita cita que uma boneca para as demais crianças seria ninada, mas para o autista, a principal diversão seria brincar de abrir e fechar os olhinhos.

Movimentos corporais estereotipados são comuns e apresentam-se sob a forma de "flapping", balanceio da cabeça, movimentos com os dedos, saltos e rodopios. “Essas reações motoras se justificam devido ao desenvolvimento psicomotor ser comprometido em função de algumas áreas cerebrais serem afetas em termos fisiológicos e neurológicos”, explica o psicólogo Artur Vandré.

Mesmo a doença sendo considerada incurável, a esperança de pais como Rita é grande, já que o brasileiro Alysson Muotri, na Universidade da Califórnia, que conseguiu "curar" um neurônio "autista", de um rato em laboratório.

Com a cura ou não, a maior luta atual é pela dignidade e respeito do autista. Por este motivo, comemora-se na próxima segunda-feira (2), o dia deles, onde monumentos do Brasil todo serão iluminados de azul.

Um azul, que possui muito mais que mero croma, e sim um sinal de que a sociedade valoriza o mundo diferente, assim como o da Nicole, a menina que usa um vestido azul.