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- O que gosta de ser essa menina? Gosta de bambolê, de ter Maria-chiquinha. Gosta tanto de ler, gosta do que vê e sente. Prende flor no cabelo, usa vestido de chita. Calça chinelo de dedo, na rua sempre desfila. Na passarela do ipê, dança e canta como artista. Gosta de pastel de queijo Com goiabada e um beijo seu. Borda o seu nome num lenço Deixa um bilhete na porta, E diz que vai voltar!
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Quando assistimos nas telas circenses da TV o drama da menina Eloá, automaticamente precisamos encontrar culpados para a catástrofe humana em Santo André.
Quem é o culpado pela vida ceifada tão precocemente?
A polícia pela lentidão?
A mídia pela superexploração da agonia?
Lindemberg Alves pelo desequilíbrio emocional?
Nayara por seus óculos escuros?
A família pela omissão?
Sim, todos eles têm suas parcelas no homicídio de Eloá, porém, ao mesmo tempo nenhum deles é o fator fundamental na tragédia do conjunto habitacional Santo André.
É necessário que ocorram barbáries como estas para que se repense a condição social do Brasil.
Eloá teve seu cárcere privado durante cem agonizantes horas, porém, sua condição é comum a milhares de outros jovens, que se encontram trancafiados; não em cárceres materiais, mas, prisões internas.
Não entendeu? Eu explico.
Atualmente, nós (eu me incluo também) jovens temos diariamente nossa subjetividade seqüestrada e trancafiada em cárceres privados, que sequer conhecemos ou sonhamos outrora estar neles.
Se você ouve MPB, riem da sua cara, música boa é “pancadão” e “Jorge e Mateus”. Se não assiste o Pânico, meu Deus você não sabe nada do melhor da cultura televisiva. Se aos quinze anos nunca beijou na boca, você definitivamente não é pertence a este mundo.
Convencem-nos a perdermos nossa subjetividade, nossas verdades pessoais, nossos detalhes, aqueles que fazem da nossa vida nossa e de mais ninguém.
Todos usam a mesma marca de tênis, de blusa, sapato bolsa, namorado, sonho, profissão. Tudo se torna uma grande dança do Siri.
Eloá era uma criança ao começar o relacionamento com Lindemberg. Sua subjetividade de menina foi seqüestrada e jogada ao cárcere de uma responsabilidade que não lhe pertencia. Aos doze anos é típico da criançada (ou como eles gostam de serem chamados: adolescentes) gastar as energias em atividades físicas, peraltices, escola, amigos, descobertas, ídolos e família.
Nem tudo é tão normal como parece. Eloá foi assassinada diariamente, ao longo destes mil e noventa e cinco dias de relacionamento. Nesta ultima semana Lindemberg, simplesmente tirou a vida material que restava a menina que fora impedida de viver por todos nós, cúmplices dessa anormalidade tão normal, que ousamos a simplesmente sentar e assistir as minúcias de um homicídio que nós mesmos praticamos e ruidosamente procuramos um culpado.
A culpada sou eu. Eu matei Eloá.
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1 comentários:
Maria Amélia Calabrese.rsrs
Ficou ótimo amiga o seu texto, muito criativo e inteligente.
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