Ao meu pai




Não é sempre que a coragem de dizer “Eu te amo” vem à tona. É difícil compartilhar a sinceridade madura que existe dentro de mim, embora ela exista desde aquele dia, onde o amor selado me formou.

Pai, seus 53 anos me inspiram a sonhar o futuro, a olhar o passado de uma forma menos acusadora e viver o presente como o que ele realmente é: o hoje e somente isso...

Sabe, estes dias eu ouvia aquela música “Eu queria mudar”, que relata o depoimento de um fracassado que tenta justificar a sua pobreza de espírito à pobreza física. Pensei em você no mesmo instante. Você é a prova viva de que tudo aquilo é uma mentira covarde e hipócrita.

O alcoolismo paterno que lhe impunha uma condição desumana, a falta de perspectiva da cidade do interior, o preconceito pela cor de sua tez, a ausência justificada de sua mãe entre tantas outras barreiras, não te rebaixaram, apenas se tornaram um trampolim para o Homem que hoje você é.

O menino que passou fome, saudade e solidão, cresceu e hoje é aquele que tem a dignidade de realmente dizer: Eu queria mudar e mudei.

Pai, sua menina cresceu. Não sou mais aquele bebê rechonchudo que era cuidadosamente banhado por suas mãos. Não sou mais a criança curiosa do interior que brinca de cavalinho nas suas costas e espera avidamente o final do dia para ouvir historinha da turma da Mônica, tão rica em detalhes que Maurício de Souza morreria de inveja. Não sou mais a adolescente irrequieta que chateia toda a casa com seu mau humor e com a pavorosa música estridente dos Backstreet Boys.

Pai o tempo passou, faltam apenas dois anos para a realização da tão sonhada formatura. Eu já ando sozinha por aí e crio minhas próprias histórias, tão ácidas que algum dia desses Diogo Mainardi será meu maior fã.

Pai, eu cresci, mas preciso admitir, a cada noite quando te vejo chegar cansado do trabalho percebo que o coração da menina que você pegava em seus braços é o mesmo e o herói apenas engordou um pouco, mas continua o mesmo, porém mais forte e lúcido.

Talvez seja coisa de gente grande formular frases simétricas, dotadas de sentido e poesia. Dizer “eu te amo” é para os fracos.

Então que seja. Te amo. Que se torne eterna minha débil insegurança, para quando eu cair você me segurar no colo e dizer que tudo está bem e a dor logo vai passar.

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