No divã com a Pat


A jornalista Patrícia Papini é mãe, esposa, filha, irmã, professora, jornalista e recentemente acumulara mais uma função, blogueira.
Ela comanda o "Papo da Papini" (http://papodapapini.blogspot.com/), nada mais nada menos que seu cantinho para fazer o que chama de "necessidade de expressar meus sentimentos, bons ou ruins, mas meus".
O Penduricalho se senta no Divã com a Patrícia e compartilha diversas idéias com esta multi mulher.


Patrícia como começou a idéia de se criar um blog?

Surgiu da necessidade de expressar meus sentimentos, bons ou ruins, mas meus. Como jornalista, minha rotina está sempre muito relacionada à notícia de fatos, acontecimentos envolvendo outras pessoas, outros universos. E, considerando que trabalho em tempo integral, e também à noite, o blog me surgiu como a possibilidade de dividir minhas impressões sobre o mundo, a vida, sobre minha vida pricipalmente, e tudo o mais que eventualmente possa se tornar objeto do meu interesse.

Quais os recursos utilizados para manter um público fiel ao seu blog?

Procuro postar com uma certa peridiocidade que, no meu caso, restringe-se a uma por semana diante do grande número de atribuições que tenho. Também acho que posts devem conter, de fato, um assunto interessante, que prenda o leitor. No meu caso, a maioria é de crônicas. Procuro escrevê-las com muito cuidado, muito carinho, como quem faz uma obra de arte mesmo. Criar um blog e postar assuntos sem cuidado, sem se perguntar se isso realmente é interessante pode afugentar seus leitores e isso depende do que você quer: postar para desabafar ou postar para manter um público fiel? Ou as duas coisas? Cada um precisa saber porque, exatamente, criou um blog. No meu caso, tenho, sim, a intenção de manter um público cativo. Por isso posso não postar muito, mas meus posts são de boa qualidade.


Qual a diferença das matérias vinculadas no seu blog de um jornal tradicional?

A diferença é que meu assunto não é notícia. Ou, pelo menos, não se pretende noticioso. Se houver uma notícia que me impulsione a escrever, eu o farei, mas não tenho esse compromisso comigo mesma. Na descrição do meu blog deixo claro que estou falando de minha vida, das minhas impressões sobre o mundo e as pessoas que me cercam, sobre minha história, meus antepassados, e, eventualmente, é claro, isso pode significar uma notícia factual. Mas isso não ocorreu até o momento. Não porque não existam notícias que não tenham me incomodado, mas porque, como lido com notícias todos os dias, e o dia inteiro, no blog procuro diversificar meu estilo de texto e também meu foco.


Você acredita que os blogs podem democratizar a informação?

Com certeza. Embora eu infelizmente tenha conhecimento de pessoas que perderam cargos em razão do que postavam em seus blogs. Contudo, sem dúvida o blog é um ferramente de comunicação individual e, por isso apenas, já democratiza a informação. É claro que tem a questão dos mass media. Num blog você não consegue atingir o público que um Jornal Nacional alcança. Mas já é um excelente começo. Eu diria que é uma terceira via.

As mulheres lutaram por seus direitos, queimaram sutiãs, e declararam sua liberdade e autonomia. Você acredita que a mulher moderna ainda possui os mesmos valores pregados por Betty Friedman e o feminismo em suas origens?

Não. O feminismo em suas origens é, ao meu ver, muito inadequado para a realidade. Houve conquistas, muito salutares por sinal mas, sinceramente - que me perdoem se eu estiver errada, mas é uma opinião - acho que isso se deve muito mais às mudanças relacionadas ao modelo capitalista - e agora neoliberal que impera na agenda internacional. Vejo mulheres que têm dificuldades de levar relacionamentos amorosos para frente porque seus pares se sentem diminuidos porque elas tem salários maiores do que os deles. E o que mais me deixa atordoada é que elas acham um absurdo passar a roupa ou fazer um almoço para o marido ou namorado mas, na hora de jantar fora, também acham um absurdo ter de dividir a conta. Ora, ou lá ou cá. Isso me parece incoerente. Penso que não deveria haver essa luta de egos. Já conquistamos e temos conquistado cada vez mais espaços. Contudo, me preocupa o fim da feminilidade, da doçura. E me preocupa, sobremaneira, a incoerência que expus mais acima. Qual o maior desafio da mulher hoje? Ser, ao mesmo tempo, boa mãe, boa esposa, boa profissional. Tudo ao mesmo tempo. De longe, a meu ver, o maior desafio.


Qual é o papel do homem na vida da mulher moderna?

Acho que nos tornamos muito competitivas e nos exigimos muito. Temos exigido muito também de nossos parceiros. Eles têm de estar no nosso nível (econômico, intelectual) e quando isso não acontece ficamos frustradas. E eu me pergunto: até que ponto isso é saudável? O homem hoje precisa ser um companheiro, alcançar nosso ritmo e mostrar disposição e preparo para acompanhar estar nova mulher, dinâmica e workholic que circula pelo mundo. Mas onde está o carinho, que tempo temos para o colo, para a conversa jogada fora? Para mim, isso é o que mais incomoda. Sinto falta de tempo com meu companheiro.


Qual a maior dificuldade de se sobreviver às exigências sociais requeridas à mulher hoje?

A dificuldade é se manter sã. Como se manter sã, de corpo, mente e espírito, se estamos correndo contra o tempo? No meu cotidiano tenho de agendar as atividades da minha secretária pois quase não fico em casa, acompanhar o desenvolvimento escolar de minha filha (o que significa ajudá-la nas tarefas escolares e comparecer às inúmeras atividades da escola), ser companheira de meu marido e apoiá-lo (ou não) em suas decisões e empreendimentos. Tenho de ser boa profissional porque o mercado é altamente competitivo e preciso acompanhar todos os avanços do tempo. Também sou filha, irmã, amiga. Então, penso que sobreviver a tudo isso é muito difícil é é preciso estar saudável, protegido - tanto emocionalmente quanto espiritualmente, eu diria - para não cair, porque a lambada é muito grande.

2 comentários:

Maria disse...

Patríciaa!!!!!
Uma pessoa fantástica.... Uma dádiva conhecê-la!!!!!

Patrícia Papini disse...

Maria, eu é que tive o super prazer de tê-la como aluna, amiga, companheira de papos existenciais muito loucos... Te adoro e obrigada pelo espaço que me concedeu no seu blog.!!!!