Ensaio filosófico sobre minha velhice


Deslizo a escova lentamente entre minhas madeixas cuidadosamente moldadas pela delicadeza do secador a 200 ° juntamente com o auxílio da tão doce chapinha.
Ao fundo uma música daquelas que se ouve em propaganda de shampoo.
Uauuuu, eu tenho cabelos sedosos! Eu tenho cabelos sedosos! Eu tenho cabelos AAAAAAHHHHHHHHHHH...

Meu momento “Narciso” capilar se rompe no instante que observo (NÃAAO!) UM FIO DE CABELO BRANCO!

Jesus Cristo salve-me! Eu tenho um CABELO BRANCO!

Tento com todas as forças (dos meus 23 anos) arrancar o intruso que insiste em misturar-se com os outros milhares de cabelos que parecem lhe dar proteção contra meus dedos raivosos sedentos por decepar-lhe de meu coro cabeludo.

EU TENHO CABELO BRANCO!

Talvez o furor ocasionado por um fiozinho branco de nada, tenha fundamentos solidificados na frase de Santa Tereza de Ávila (e confirmados pelo relógio), “tudo vai passar”:

A disposição de conversar até altas horas da madrugada será trocada por um sono arrebatador logo após o “boa noite” do Bonner (um minuto de silêncio, no período de minha velhice certamente este já haverá partido para a eternidade).

O despertador que apita às cinco da madrugada e me faz saltar da cama para ir à faculdade será substituído por outro despertador que tocará ás cinco, porém, para que sonolentamente eu levante esbravejando, lutando para não pisar no penico aos pés da cama e vá tomar meus comprimidinhos tarja preta.

O triatlon que faço atualmente será substituído pela animada aula de hidroginástica com outros coleginhas centenários, ao som de (NÃAAOOO) Djavú, mas quem importa não é mesmo, provavelmente estarei mais surda que já sou atualmente.

Minha coluna que já não é lá uma Brastemp óssea (tenho 45° de escoliose. Está pasmo? Imagine eu...) poderá levar-me ao estrelato com a seguinte manchete “Extra, extra, encontraram o “Corcunda de Notre Dame”, na verdade se trata de uma mulher, seu nome é Maria Amélia Saad, uma jornalistazinha centenária aposentada”.

Meus passeios (que segundo um grande amigo historiador, do Espírito Santo, faz parte da miséria da filosofia pequeno-burguesa, ou seja, a classe média. Ta certo ele não disse a parte do pequeno-burguesa, mas certeza que pensou!) no shopping de Anápolis serão substituídos por bailes da “melhor idade”. Contando que (como já disse anteriormente) eu provavelmente estarei surda a finalidade de tal passatempo será contar às minhas amigas os benefícios ocasionados pela última consulta geriátrica, ou um flerte com algum coleginha aposentado.

Em fim, vou precisar de uma bengala, de netos, noras, genros e filhos. Eu serei a sogra maligna (isso mesmo, aquela dos filmes de terror ou comédia). Sentirei dores por todas as partes do corpo. Usarei uma dentadura e aparelho para audição. Assistirei padre Fábio de Melo (NÃAAOOO) na TV. Esquecerei o nome da empregada, dos membros da família e o meu próprio. Poderão abandonar-me em um asilo sem as visitas de ninguém e...

Opa, arranquei o fiozinho maligno...
Graças a Deus, pois, esta história de ensaios filosóficos sobre minha velhice me deixou um pouco temerosa.

4 comentários:

Camila disse...

A sua imaginação é pra lá de fértil,amiga. Eu piro kkkkkkkkkkk
Eu também tenho certos medos com relação a fios brancos.

Maria disse...

hahahaaaa medo de fios brancos? Padre Fábio de Melo explica (kkkk): Sou humano d++++ pra entender, humano d+++ pra compreender (ahhh esqueci o resto da música, graças a Deus!)

Camila Di Assis disse...

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
só vc mesmo!!!

Darlan Campos disse...

Olaa

Então quer dizer que vc tem outro amigo historiador no ES?!?! que legal!!!

rsrsrs

Belo texto existencialista sobre a filosofia dos cabeços brancos...rs

Eu não tenho esse problema de cabelos brancos... :P