O que eu vejo...


Tumultuo. Compra passagem, pega o troco, corre, pula na fila se espreme e ufa, consegue o ultimo lugar, aquele lateral que geralmente ninguém quer... Eu disse geralmente, pois no meu caso eu prefiro o lugar lateral a ir em pé.

Esta sempre é a realidade da minha volta conturbada no ônibus semi-urbano de Anápolis a Goiânia. Andar de ônibus é um ato reflexivo, por ora filosófico. Acreditem minha vida sofre bruscas mudanças neste percurso.

Ao sentar-me na habitual poltrona indesejada por muitos, posso ter a visão de muitas coisas. Hoje observei uma jovem senhora segurando o choro de todas as formas possíveis. Aquele olhar marejado revelava cansaço de uma mulher que estava desistindo de tudo, mas precisava ser forte, não que ela quisesse, era necessidade: ela havia ganhado um presente, uma menina linda, que sorria, tal ato segurava aquelas lágrimas, fazia a mulher precisar agüentar a dor e seguir.

Tal fato me fez lembrar de outra mulher que vi no ônibus há alguns meses atrás... Ela segurava uma caixa de presentes que lhe fora dada em promessa de uma grande surpresa e esta só poderia abrir em casa, dado o suspense... Mas como ela estava curiosa resolveu averiguar tal encomenda. Duas blusas e uma carta, cuidadosamente dobrada.

Esta mulher animadamente abria a carta e logo começava a lê-la. Em instantes as feições dela transformaram-se e muitas lágrimas correram. Parece estranho, mas aquela mulher não se constrangia em chorar. Ela recebeu um presente e este a estimulou a não ser forte, a expurgar suas dores, sua desistência...

No dia a observei e a achei estranha... Como alguém pode se expor de tal forma. Fiquei ouvindo de longe suas queixas a quem estava ao lado. Sinceramente não entendi!

Mas hoje, ao ver essa mulher segurando as lágrimas, me veio à memória aquela outra mulher de alguns meses atrás. As duas tiveram a mesma atitude, só transformaram os contextos.

Uma delas observou que para seguir era preciso agüentar, pois ela recebera um presente de fortaleza, já a outra observou que era preciso se desfazer daquele presente que a fazia frágil, era preciso se fragilizar para fortalecer-se.

Elas conseguiram, simplesmente seguiram... Uma com o presente e a outra desprovida de verdades, encontrando em si mesma a força que ela precisou achar na dor.

Essas são as lições que aprendo como expectadora de um ônibus semi-urbano, da poltrona que ninguém quer usar...



1 comentários:

Camila Di Assis disse...

Lindo!!! Ambas mulheres são fortes,mas à maneira delas!!