voyager mayonnaise- Parte 1

Caricatura do pensador Jürgen Habermas.



“(…) Nasce daí uma questão: se é melhor ser amado que temido ou o contrário. A resposta é de que seria necessário ser uma coisa e outra; mas, como é difícil reuni-las, em tendo que faltar uma das duas é muito mais seguro ser temido do que amado. Isso porque dos homens pode-se dizer, geralmente, que são ingratos, volúveis, simuladores, tementes do perigo, ambiciosos de ganho”
MAQUIAVEL, N. O Príncipe. In: Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 2000.


O renascentista Nicolau Maquiavel afirmava no século XIV que o respeito se consegue por meio da prática do medo. Tal pensamento pode traduzir atos da sociedade contemporânea, marcada pelas ações da “democrática” ação do príncipe moderno.

A insurgência de rebeliões, ou reivindicações que ameaçam a soberania do cedro real, obriga o detentor do poder se comportar de forma ameaçadora para que seus interesses não sejam derrubados e a coroa continue simbolizar a realeza por ele exercida.

Para maquiar as repressões de poder, o príncipe, em sua sociedade democrática, assimila as ações da ágora grega: o espaço oval público onde “todos os cidadãos” tinham direito ao voto. Porém quem eram tais cidadãos? Eram os adultos, filhos de pai e mãe atenienses, ou seja, esta forma democrática excluía as mulheres, estrangeiros e escravos. O Príncipe pratica a democracia grega.

Tal como o verbo, o príncipe busca assemelhar-se à metodologia da “palavra pura” no ato de abaixar-se e riscar o chão. "Mas Jesus, inclinando-se, começou a escrever com o dedo no chão” (João 8- 6b). No mesmo contexto da escrita na superfície, o mestre revela que se alguém conhecer a verdade esta o libertará (João 8, 32) e em outro momento afirma que a verdade absoluta está inscrita em si próprio (João 4, 6). O príncipe convicto de não possuir caráter divino e por considerar tal feito monótono, aposta no carisma como arma de persuasão para a verdade (absoluta) transcrita a seus súditos.

Contrapondo-se a este pensamento, o filósofo Jürgen Habermas em sua obra “Direito e Democracia: Entre Facticidade e Validade” (Faktizität und Geltung), afirma que a pretensão à verdade levantada precisa ser criticável e aberta a possíveis objeções para fazer jus a um acatamento racional da comunidade interpretativa. Já Friedrich Nietzsche refuta a existência do absoluto. “Não há fatos eternos, como não há verdades absolutas”.

O dicionário define o verbete “coesão” como qualidade de uma coisa em que todas as partes estão ligadas umas às outras. Se considerarmos a verdade líquida e não absoluta (como a proposta por Habermas e Nietzsche) a coesão é inexistente. Portanto, na sociedade o processo coesivo é nulo por conseqüência das inúmeras verdades e arrogâncias adquiridas ao longo do processo de formação pessoal do indivíduo, impedindo-o de conhecer e discutir outras formas de verdade.

Habermas conclui que é por meio da estrutura lingüística da comunicação que seria possível articular o sentido entre mundo e comunidade de interpretação, pois só há sentido no discurso em um mundo se seus membros compreendem a si próprios e quando há compreensão deste intersubjetivamente.

O poeta haitiano Georges Sylvain conseguiu representar bem o conceito da falta de coesão social, que embora seja direcionada ao Haiti é cabível aos moldes de qualquer sociedade ou (no sentido Habermasiano) mundo. “Surpreende-nos a falta de coesão de nossa sociedade. Falta-nos a noção de conjunto por não nos conhecermos uns aos outros, tanto quanto nos falta persistência. O presente desconhece o que foi o passado, e, o que é mais curioso, desconhecemo-nos de uma cidade para outra”.

Deste desconhecimento citado por Sylvain e do uso da arrogância, surgem as contendas sociais. A contenda machuca e fere. Um orgulho ferido gera processos como a insurreição do nazifacismo, cumulando de castigos a sociedade. O criador no nazismo, Adolf Hitler expressa bem tal preposição por meio desta reflexão: Quando o coração humano se parte e desespera, do crepúsculo do passado os grandes conquistadores da agonia e preocupação, da desgraça e miséria, da escravidão espiritual e compulsão física, o desprezam e estendem suas mãos eternas para os mortais desesperados.