Das passeatas à carteirinha: uma mudança ou silenciamento consentido dos movimentos estudantis?


Das passeatas à carteirinha: uma mudança ou silenciamento consentido dos movimentos estudantis?

O movimento estudantil no Brasil nasceu em meados de 1937, sendo responsável por conquistas políticas expressivas, como a defesa do fim da Ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas e a posição contra o Nazifascismo, a luta contra a ditadura que durou de 1964 a 1985, participação ativa nas “Diretas já” e o movimento “caras pintadas”, que promoveu o Impeachment do Presidente Collor.

Os maiores momentos do movimento estudantil, estão ligados diretamente à luta por democracia, porém, atualmente, a maior luta dos movimentos é da implementação da carteirinha de meia entrada, que de acordo com os movimentos, é uma garantia do estudante para possuir formação intelectual e cultural, além de proporcionar atenção voltada excludivamente aos estudos, não precisando trabalhar para sustentar uma vida social de qualidade.

Advindo da nova perspectiva destes movimentos, que atualmente buscam construir junto com a sociedade, está Alzir Aguiar, que é o segundo presidente da União dos Estudantes do Estado de Goiás (UEE), provenientente do curso de Direito, de uma instituição de ensino particular e majoritariamente direitista, a Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC).

De sotaque típico do nordeste, uma figura marcante não só pela barba e o cigarro, Alzir fala com propriedade sobre a realidade universitária, o desinteresse dos estudantes por questões inerentes à política, perda de valores e a nova cara da juventude goiana, a quem ele se refere como “politizada”.
Tranquilidade política?

Com a recente redemocratização do Brasil criou-se um clima de tranqulidade política, já que foram conquistadas liberdades outrora cerceadas.

Para o presidente da UEE, o viés do movimento estudantil de apenas debater e levantar bandeiras foi substituído por um movimento de construção de ações, para de fato descobrir o que a juventude quer hoje. “Quando se fala em política, a juventude abomina essa palavra, isso é ruim, mas tem uma nuância de certo modo positiva. Essa abominação vem de toda corrupção e degradação do cenário nacional, com isso o estudante procura engrandecimento pessoal e pessoal para quando sair da faculdade e o movimento estudantil tem preenchido essa lacuna na sociedade, agindo na formação pessoal e profissional deste estudante”, acredita.

Muitos veículos de comunicação sugerem que o principal movimento estudantil, a UNE, de se tornaou um reduto de partidos políticos esquerdistas, como o PcdoB, chapa branca do atual governo, além das inúmeras acusações de corrupção e desvio de verbas públicas, para compra até mesmo de wisky e vodcka importada.
Aguiar admite que acontecimentos como os acima destacados acontecem, porém defende que não pode haver generalização de fatos considerados por ele como isolados. “Às vezes um fato quando ocorre, por menor que seja, sua repercussão negativa é bem maior que a positiva”, defende.

Porém, o presidente ressalta que é muito difícil separar movimentos estudantis do pensamento esquerdista, já que desde os primórdios estes sempre caminharam ao lado de teses socialistas, no entanto, ele enfatiza que não é mais discutida a polarização, já que antes do fim da Guerra Fria, o mundo deixou de ser bipolar, a discussão atual abrange um nível do comportamento social. “Hoje existe uma intervenção negativa de alguns partidos, mas é mínima, e aqui em Goiás, nós temos uma representação muito mais institucional que é a atual perspectiva que o estudante tem aderido; a UNB e a USP têm tomado posições muito interessantes, no sentido de levantar bandeiras independentes”, ressalta.

Embora Alzir ache interessante essas novas práticas independentes, ele diz achar uma “lenda”, a separação de movimentos estudantis do partidarismo.

Um novo conceito

Os filhos das conquistas do movimento estudantil cresceram em meio à recente calmaria política democrática, assistiram no Jornal Nacional os escândalos de corrupção e decidiram que mais importante que militancia era cuidar da própria individualidade.

Essa perspectiva trouxe mudanças significativas, de acordo com Aguiar, os congressos e eventos dos movimentos estudantis antes de apresentar debates políticos precisa adicionar boas doses de atrações culturais, caso contrário, a participação é mínima.
Outra consequência dessa geração são os relevantes índices da educação superior no Brasil, que deram um salto considerável, contando com cerca de 2 mil instituições de ensino. Porém, o curso superior tornou-se em certas situações mera fonte de lucro perdendo sua qualidade.

De acordo com o Ministério da Educação (MEC), 37% das faculdades obtiveram notas abaixo da média e quase 50 mil vagas correm o risco de serem fechadas. De acordo com Alzir Aguiar, essa realiade preocupa a UEE. “No Brasil essa é uma questão muito delicada, que vem desde a base, se o país não tiver essa preocupação de subsidiar e dar boa qualidade de educação, nós nunca vamos sair de um país de primeiro mundo, mas que ao mesmo tempo abriga um país de terceiro mundo”, pondera.

A nova bandeira

A meia-entrada em cinemas, circos, espetáculos teatrais, esportivos, musicais e de lazer é um direito garantido a todo estudante, e está baseado na idéia de que a formação do jovem é mais ampla do que sua simples ida à escola, incluindo também sua participação em atividades que o coloquem em contato com diversos tipos de produções culturais.

Alzir acredita que houve uma banalização do uso dessa carteira estudantil, e o movimento lançou a campanha “Com a UEE posso mais”, que visa criar uma série de parcerias com a iniciativa privada para agregar aos parceiros essa mentalidade.
O presidente critica o atual modelo de utilização das carteiras e diz que houve uma banalização inaceitável e com intuito de moralizar o uso da carteira estudantil, no dia 15 haverá uma audiência com o procurador geral de justiça, Benedito Torres, para discutir a evasão legislativa desta matéria.
Alzir defende que a meia-entrada deve ser restringida unicamente ao estudante e que atualmente o uso desta tem sido “prostituido” por empresas, tirando legitimidade das entidades estudantis e que a medida beneficia uma classe que não se sustenta e precisa de cultura para fazer a diferença na sociedade.

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