Sapiens, sapiens insapiens




Ouve-se o som grave de uma voz que ressoa em alto e bom som embaixo da janela da mulher amada:

“Tão longe, de mim distante, onde irá, onde irá teu pensamento? Quisera saber agora se esqueceste, se esqueceste o juramento. Sabe se és constante, se ainda é meu teu pensamento e minh'alma toda de fora, da saudade, agro tormento!"

Seja bem vindo a 1910, um ano onde a música romântica tinha um formato redundante, era romântica. Este texto não é um túnel do tempo, não se preocupe, eu apenas meditava horas atrás a notável evolução (?) da música de amor brasileira.

Não é preciso viajar a 1910 para observar como nossos conceitos culturais e românticos se transformaram em um curto espaço de décadas. Meu pai estes dias me confessou que ouvia Travessia, de Miltom Nascimento para mergulhar na mais profunda fossa, pois sua amada não lhe correspondia todo amor denotado. Já meu irmão 33 anos mais novo que meu pai, num lapso de surto ouve DJ Claudinho (ou é o Buchecha?) para lembrar a namoradinha que deve estar perdida em algum canto deste país.

Não serei hipócrita, defenderei a música antiga. A música de verdade. Talvez eu não seja desta década, Deus deve ter atrasado o vôo da minha cegonha por motivos que não me foram explicitados até este dado momento. Não gosto de música eletrônica, sertanejo, muito menos do famigerado funk carioca.

É incrível observar que nossos conceitos mudaram, se valoriza o profano, o imoral, o vendável, a indústria da música quer nos fazer engolir as frutas, que esfregam suas nádegas em nossas vias respiratórias, e pior, querem que acreditemos que o erótico é romântico e tudo isso é uma salada de frutas de um copo só.


As antigas serenatas de amor, as músicas oferecidas em horário nobre nas rádios do país, a musiquinha deixada na secretária eletrônica e todas as belas expressões de carinho foram trocadas por download de uma música repleta de romantismo e conteúdo cultural. “Eu não quero ser um namorado ciumento. Eu to de acordo com o seu comportamento, nego tá botando pilha não que tiver dançar, mais a mina é minha deixa a mina se acabar. Deixa a mina quer descer, deixa a mina quer sentar deixa a mina se acabar”. Imagine tamanha demonstração de afeto amplificada nos alto-falantes de um carro rebaixado.
O mercado fonográfico não me compra. A velha chatice sentimental norteia minha cenil mente feminina. Não sou tchutchuca, nem fruta, muito menos uma cachorra, portanto que o velho Miltom cante minha travessia. E enquanto não aparece um jovem senhor tal como eu prefiro a velha solidão do celibato momentâneo.


1 comentários:

Camila Di Assis disse...

Eu também,amigaa!!
Prefiro a solidão,ouvir música que preste a esses sons que nada têm a acrescentar na nossa vida!!
A foto tem tudo a ver!!!
Bjoo