A quem interessa a greve 2?


Sempre que se fala em greve procura-se duas fontes: o sindicato e o governo. A versão desses dois pólos é importante, pois figuram as decisões que acarretam mudanças na vida de milhares de pessoas. Mas e essas outras milhares de pessoas, o que elas têm a dizer? Qual é a realidade que experimentam, longe dos conclaves de poder e ideologias?

Enquanto os olhares muitas permanecem apenas ao debate ideológico do plano de carreira, a verdadeira indagação é: Quem é o maior prejudicado com esses 30 dias de paralisação?

Carol Miranda, 16 anos, estudante do 2° ano no colégio Hely Alves: Ela quer passar no vestibular

Em dois anos, Carol passou por duas greves. A adolescente estudava no Instituto Federal de Goiás (IFG), que paralisou as atividades letivas por 60 dias no ano passado, e insatisfeita com essa realidade se transferiu para o Colégio Estadual Hely Alves, que por ironia foi um dos únicos que aderiu à greve da educação.

Embora ela apóie a causa dos professores, o sentimento de impotência diante dessa situação a entristece. “Me sinto pésima, pois ja é a segunda vez que isso acontece comigo¬ e me atrapalha totalmente,¬ eu sei que vou repor as aulas, mas isso pode acabar me deixando atrasada¬ porque, os professores passarão tudo às pressas¬ pra nós não ficarmos durante as férias”, lamenta.

Advinda do ensino fundamental em colégios particulares, Carol disse que sente a diferença latente e se preocupa com a forma que disputará uma vaga no concorrido vestibular e com acontecimentos como a greve, a disputa será desleal. “No colégio particular¬ os professores te preparam para o vestibular¬, já no colegio publico os professores só querem passar a matéria, quem gosta da greve é só aluno que não quer nada ”, detaca.

A estudante disse que não tem em mente o plano se seguir uma carreira de docente em escolas estaduais, mas, que se isso ocorrer, escolherá bem seu patrão, através do voto. “Os professores não tiveram culpa do governador ter prometido uma coisa e ter feito outra¬, ele precisa reconhecer o quanto está errado”, posiciona-se.
Questionada sobre quem é o maior prejudicado com a greve, Carol não titubeia em dizer que os alunos que têm ambição de um dia serem alguém e construirem um futuro pagarão por essa briga do Sintego e governo.

Bruno Roger Silva, 23, ex-professor: A docencia foi uma decepção

Alunos semi-alfabetizados, deficientes, usuários de drogas, entre outros. Salas utilizadas em sua lotação máxima, chegando a 45 alunos por turma, o que somado ao desinteresse e indisciplina, muitas vezes inviabiliza uma educação de qualidade. A inclusão, que é a insersão de alunos com as mais variadas deficiências em salas de aula regulares, sem o devido treinamento com os docêntes para lidar com estes, requer um tratamento diferenciado com adaptação de atividades e provas, causando transtornos tanto para “inclusores” quanto os “incluídos”, que às vezes se sentem rejeitados.

Essa é a realidade que o professor de português, inglês e espanol, Bruno Roger encontrou diante de um ano três meses de profissão. Desiludido, ele mudou totalmente de direção e assumiu na última quarta-feira (7), a carreira bancária.
Bruno, não é filiado ao Sintego, mas diz apoiar a causa dos professores, embora, lamente que reivindicações apareçam em ano eleitoral. “Infelizmente, apesar de acreditar que realmente a categoria dos professores devem reinvindicar seus direitos e que a forma como essa "reforma educacional" foi feita é no mínimo suspeita e estranha, acredito que não o sindicato, mas pessoas ligadas ao SINTEGO estejam querendo sim projetar seus nomes no cenário eleitoral”, acredita.

Para o ex-professor, a greve é uma guerra sem vencedores. “Todos sairam perdendo. De um lado os professores, ao meu ver os mais prejudicados, que, além de terem perdido a titularidade que consideravam um direito adquirido, perderam também o salário do mês de fevereiro que é, em muitos casos, a única fonte de renda da família e ainda terão que repor as aulas perdidas. De outro os alunos, que apesar muitos se sentirem felizes pela "folga", deixam de estudar e, tal qual os professores, deverão repor esses dias perdidos durante o mês de férias (julho). E por fim o governo, que julgo o menos prejudicado, que se vangloriava do seu "Pacto pela Educação" e se viu forçado a repensar suas estratégias para o Estado. No final, quem perde é a Educação em Goiás que mais uma vez foi tratada com descaso por nossas autoridades, que deviam olhar com mais carinho para esse bem tão importante para o futuro da sociedade”, defende.



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